3 Informação: o Lixo da Indigência Artificial
Versão 0.0.4 - 27/01/20249
3.1 Introdução
Algumas palavras soam inofensivas mas trazem em si um pesadelo. Por isso, muitos conceitos precisam ser demolidos antes de serem usados. Informação é um deles. Vamos lá?
Trataremos de informação, inteligência e apocalipse. O que uma coisa tem a ver com outra?
Contarei Uma Breve História da Informação – talvez um dos conceitos mais colonizado e colonizador – no triste enfoque eurocêntrico dos processos ditos civilizatórios, num intervalo de dois a quatro mil anos, envolvendo de 100 a 200 gerações de gente.
Tratarei das origens, transformações e destinos desta palavra, e como ela sempre esteve associada ao que atualmente chamaríamos de controle biológico, individual, social, maquínico.
Tentarei decifrar o “código” por detrás da “informação”, digamos assim, e mostrar como um outro tipo de conceito de informação se faz necessário, já que o atualmente hegemônico leva à guerra e à destruição.
Há um esforço ativo em parte da filosofia ocidental contemporânea de retirar qualquer carga histórica do conceito de informação, de torná-lo a-histórico e consequentemente aplicável a qualquer momento; também de universalizá-lo, para que se aplique a qualquer situação, como aponta Peters (1988)10.
A informação tem sido alçada a um conceito metafísico último, além até de matéria e energia11, talvez até de espaço ou tempo, numa realização máxima do “ideal” da teoria das ideias e da doutrina das formas, de “conhecer” aquilo que só pode ser conhecido quando não se vê, quando é intangível. Também seria aderente a qualquer sistema ontológico-filosófico, além de um conceito fundamental da epistemologia12.
Trata-se de um “take over”, uma tomada de controle informacional13:
PI [Philosophy of Information] possesses one of the most powerful conceptual vocabularies ever devised in philosophy. This is because we can rely on informational concepts whenever a complete understanding of some series of events is unavailable or unnecessary for providing an explanation. In philosophy, this means that virtually any issue can be rephrased in informational terms. This semantic power is a great advantage of PI understood as a methodology […]. It shows that we are dealing with an influential paradigm, describable in terms of an informational philosophy. But it may also be a problem, because a metaphorically pan-informational approach can lead to a dangerous equivocation, namely thinking that since any x can be described in (more or less metaphorically) informational terms, then the nature of any x is genuinely informational. And the equivocation obscures PI’s specificity as a philosophical field with its own subject. PI runs the risk of becoming synonymous with philosophy.
Isso tem ocorrido mediante um reiterado processo de apagamento histórico-informacional da genealogia deste termo, com uma criação de consenso tão forte que torna difícil propor modos de pensar que escapem do informacionalismo.
Desnecessário dizer, como veremos, que todo esse esforço no plano teório conseguiu, no máximo, confundir ainda mais o que seria “informação”. No entanto, na prática ocorreu uma redução conceitual da “informação” ligada principalmente à chamada “Teoria Matemática da Informação” de Shannon-Weaver.
Tal sacralização paradoxalmente também produz o efeito oposto, de aproximar o termo do que podemos entender por “poluição”, e que parece ser o pináculo conceitual dessa palavra dentro desta trajetória colonizadora.
Daí que é preciso analisar os conceitos de informação numa perspectiva histórica, desfazendo uma espessa camada de mistificação em torno deste termo.
Este se trata de um resgate etimológico, filosófico e metafísico dentro da tradição ocidental e eurocêntrica14, feito para que em seguida o conceito possa ser desconstruído, descolonizado, ressignificado ou mesmo destruído.
Também trataremos da cambiante relação entre “informação” e “inteligência”.
Mostraremos como o conceito de informação pode ser um nova velha maneira para “ler” as mazelas do mundo.
Seguiremos a linha esquemática de Peters (1988)15, esboçando alguns estágios principais do termo informação:
Ingnismo dos períodos clássicos, quando a “chama” da informação acende.
Iluminismo, com a ascensão da tocha do empirismo e dos dados estatísticos das burocracias estatais.
Explodismo, ou Hiperluminismo, com o incêndio pela ascendência das tecnologias informacionais.
Mas tentaremos ir um pouco antes e um pouco além desta história crítica, com o amparo dos estudos de Rafael Capurro, com parte da discussão dos últimos dois séculos e com a nossa própria contribuição.
3.2 Originação
Ir muito atrás no passado dos conceitos nos leva a tempos de rastros escassos, pois muitas palavras precedem os registros escritos, e as principais fontes são os mitos e a etimologia.
Nossa história do termo informação começa com os quatro palavras gregas que são traduzidos como fōrma em latim16:
τύπος (typos), por sua vez derivada de τύπτω (typto)17:
τύπτω (typto), significando “cutucar”, “atiçar”, “apunhalar”, com uma arma ou um pedaço de pau18. Viria do (proto-)indo-europeu _*(s)teup-* (empurrar, bater)19.
τύπος (typos), significando algo como “assoprar”, “bater”; “emblema”/“estampa em relevo”/“selo”, “alto relevo”, “delineamento”, “forma”; “imagem”, “exemplo”, “tipo”, e seria uma construção pós-Homérica.
μορφή (morfé), significanto “delineamento”/“superfície” (?), “forma”, “beleza”, “graça”. De etimologia incerta, provavelmente do (Proto-)Indo-Europeu. Menciona a palavra lituana mergà (garota) como uma das sugestões de relação, mas não há etimologia conhecida. Poderia ter uma raíz \(*merg^{wh}-\)20.
εἶδος (eidos), derivada de εἲδομαι (eidomai)21:
εἲδομαι (eidomai): “aparecer”, “parecer”, “assemelhar”, vinda do (proto-)indo-europeu. Formalmente idêntica à sânscrita védas- (conhecimento, intuição), mas semanticamente não tão próxima. Poderia ter sido formada de εἶδος (eidos), e não o contrário.
εἶδος (eidos): “aparência”, “espécie”, “forma”. Corresponde a formas balto-eslávicas como a lituana véidas (face) ou do antigo eslavônico vidъ (aparência).
ἰδέα (idea), derivada de ἰδεῖν (idein)22:
ἰδεῖν (idein): “ver”, “conhecer”, vinda do (proto-)indo-europeu \(*ueid-\), “ver”, vinda do verbo ἰδεῖν (“ver”, “conhecer”). Pode ter relação com εἶδος (eidos).
ἰδέα (idea): “aparência”, “forma”, daí a terminologia filosófica de “idéia”, “protótipo”, “categoria”.
Todas essas palavras foram traduzidas como fōrma em latim, a mesma fōrma de onde vem a palavra “forma” usada hoje em dia em muitos idiomas. Na época dessa tradução do grego para o latim, fōrma se tornou uma espécie de “guardachuva” terminológico, recebendo diversos conceitos originários no pensamento grego clássico, especialmente platônicos e aristotélicos.
Fōrma também se tornou a base para as palavras latinas infōrmo e infōrmātio, usadas para traduzir outros conceitos filosóficos da Grécia clássica e mais ou menos relacionados a typos, morfé, eidos e idea, e originadoras da atual palavra informação.
3.3 Formação
Mas o que foi e o que é fōrma? Ou melhor: mas qual é a origem da fōrma, isto é, de onde vem essa palavra fōrma?
E como se deu o processo de tradução dos quatro termos gregos originários para fōrma?
A etimologia de fōrma é incerta e inconclusiva. Existem algumas sugestões, mas nenhuma delas é satisfatória.
3.3.1 Etimologização
Levanto algumas dessas conjecturas a seguir:
Fōrma poderia ter vindo da palavra sânscrita dhar-i-man – que por sua vez significaria uma balança, um par de escalas um peso, assim como forma, figura, representação/aparência –, ou de uma ancestral comum entre ambas23.
Parece-me que a maior semelhança entre fōrma e dhariman, além do significado, seria a sílaba ma compartilhada por ambas palavras. Mas essa conexão com o sânscrito parece um tanto quanto forçada. Também parece haver uma quantidade menor de dicionários etimológicos recentes que elencam esta possibilidade.
Fōrma poderia ter vindo da palavra grega μορφή (morfé) ou de um ancestral comum entre ambas, ou seja, desde partida estaria tanto semanticamente como etimologicamente conectada a uma das suas quatro palavras gregos originárias24.
A origem a partir de morfé é inconclusiva. Talvez a relação de forma com morfé só tenha sido estabelecida por traduções (ou seja, forma seria uma palavra pré-existente e usada para traduzir morfé do grego para o latim.
Grosso modo, a grande dificuldade aqui consiste em explicar como morfé muda para morfa, e daí para forma, ou algo assim. Fazendo um trocadilho, seria como dizer da dificuldade em que “morfé morfa para forma”.
Tavez a conexão entre ambas tenha se dado apenas no momento da tradução de conceitos de textos gregos quando vertidos para o latim, mas isso talvez contrarie a teoria da língua Proto-Indo-Européia das ancestralidades comuns entre esses idiomas.
- Fōrma poderia estar relacionada à raíz reconstruída do proto-indo-europeu \(bher-^{3}\), com significados ao redor de bater, cortar, etc25.
- Fōrma poderia ter vindo da palavra latina para “forno” e é relacionada por antigos comentaristas ao calor, por exemplo aos rubores gerados pelo amor e pelo vislumbre da beleza das formas – e em muitos exemplos à formas femininas. Esta é considerada uma etimologia popular, detalhada na Seção 3.9.1.
3.3.2 Utilização
Para esboçar cronologicamente a utilização desta palavra, chequei inicialmente a estrutura de ocorrências/significados do verbete fōrma no “Thesaurus Linguae Latinae”, cujo resumo encontra-se na Seção 3.9.2.
Deste breve levantamento, temos que uma das primeiras ocorrências escritas seria de Naevius para a peça Danae26:
Contemplo placide formam et faciem virginis [I quietly scan the maiden’s form and face]
Outra ocorrência antiga é atribuída a Cato, vide menção e tradução de Georgescu (2020) pág. 21327:
‘mundo nomen impositum est ab eo mundo, qui supra nos est: forma enim eius est <. . .> adsimilis illae’; eius inferiorem partem veluti consecratam dis Manibus clausam omni tempore nisi his diebus, qui supra scripti sunt … (FEST. p. 154)
‘the name of the ‘mundus’ was given from that mundus that is above us: because its form is similar to that one [from above]; its inferior part, just as it is consecrated to the Manes gods, is closed all the time, except for those days mentioned before.’
Mas para ser mais conclusivo seria necessário se debruçar mais detalhadamente no verbete e melhorando a cronologia da palavra.
3.3.3 Conjecturação
Com base no levantamento anterior, cheguei às seguintes conjecturas sobre a origem da palavra latina fōrma:
Conjectura sobre a origem da palavra latina fōrma relacionada à beleza.
Conjectura sobre a origem palavra latina fōrma relacionada ao conceito de molde.
Esta conjectura consiste em considerar o significado originário de fōrma como um molde, ou modelo, compatível com os quatro conceitos gregos da “Teoria das Formas” platônico-aristotélica – τύπος (typos), μορφή (morfé), εἶδος (eidos) e ἰδέα (idea).
Um molde, modelo, ou uma fôrma podem ter sido os significados originários da palavra latina fōrma.
Ou aquilo que é o resultado de uma modelagem, um recorte, um delineamento.
Forma originalmente como algo vem moldado. Deformado seria o oposto.
Conjectura sobre a origem da palavra latina fōrma relacionada ao um material colocado num molde e levado ao calor dos fornos.
Esta é a conjectura mais figurativa, mitológica e de mais difícil sustentação, levando adiante a conjectura de fōrma como originalmente se referindo a um molde.
Embora seja descartada pelos estudos etimológicos recentes, esta é a conjectura mais instigante, pela conexão entre forma e termodinâmica.
Talvez esta seja uma daquelas situações onde as atuais teorias etimológicas falhem, e novas precisem surgir considerando também o papel das dinâmicas mitológicas, históricas e filosóficas.
A etimologia nos leva até um limite de origem. Nos resta algumas especulações conjecturais.
Mesmo que esta conjectura seja considerada inválida do ponto de vista linguístico, podemos considerá-la como uma analogia para ajudar a compreender como os processos de formação eram explicados. Afinal, não podemos desconsiderar inteiramente a “etimologia popular” neste caso. Apesar de não ser compatível com as teorias atuais, essa conjectura dos antigos tem muito a nos dizer sobre como forma era interpretada: beleza que gera e é gerada pelo calor.
Ela é baseadana chamada “etimologia popular” descrita por Donatus, que pode ter confundido a origem de fōrma com a de formus, de modo que não é um caminho atualmente aceito pelo consenso na área, por possuir algumas dificuldades na transição das vogais.
Mas e se, por um momento, reconsiderássemos essa conjectura, de que forma tenha um significado originário em processos produtivos associados a fornos e forjas, onde um material era moldado – muitas vezes numa fôrma, ganhando um fornato definitivo pela ação do calor. Essas tecnologias parecem mais antigas que a língua latina, e talvez tenhan tomado de empréstimo a atividade fabril para explicações antropomorfizadas da formação das coisas.
Quando Donatus diz “os antigos dizem” e da forma enquanto calor, talvez não seja mesmo uma observação etimológica e sim mitológica.
O entendimento de vários processos de “formação” talvez derivem do vislumbre da fôrma e do calor dando a aparência e o comportamento para os corpos.
De origem incerta, mas muito próxima de fôrma e forno para que a similaridade seja ignorada. Talvez, e aqui segue um grande talvez, a palavra fōrma em latim tenha primeiramente servido para nomear o objeto usado para coser/assar/cozinhar alimentos, tijolos etc, isto é, um objeto usado para criar/consolidar/solidificar/cristalizar/etc outros objetos. O processo de cozimento/consolidação ocorre com ingedientes materiais colocados dentro da fôrma e em seguida sendo expostos ao calor.
Um próximo passo seria, por analogia, reaproveitar o termo fōrma para indicar o desenho, aparência, contorno etc de diversos objetos/seres, mesmo aqueles que não foram produzidor num forno com uma fôrma.
Daí, talvez tenha sido confortável para os tradutores latinos dos conceitos platônicos e aristotélicos supracitados reutilizarem uma palavra já disponível e compatível. Ou seja, na tradução dos vários conceitos platônicos e aristotélicos a palavra fōrma pode ser sido reaproveitada para esse significado compatível com a analogia existente do processo de coser/assar algo até obter um objeto “formado”.
Quando vários termos platônicos e aristotélicos relacionados a processos criativos foram traduzidos, a palavra forma talvez fosse a de sentido mais próxima e imediata para o entendimento do que se queria explicar.
Ora, por que fōrma e não outra palavra do latim como folium (folha de planta/pétala)?
Outras palavras com conotações construtivas também poderiam ter sido selecionadas. Mas por quê fōrma, e não outra, como martulus (martelo), tal como a palavra grega typos (τύπος) teria vindo de de typto (τύπτω)?
Por esta minha conjectura, fōrma teria sido mais apropriada não só pelo caráter modelador de uma fôrma, como pelo processo produtivo que requer calor para a consolidação de um objeto a partir de um material colocado num molde.
Este processo forneceria uma imagem adequada para a compreensão de outros processos formativos.
O significado amplo da palavra forma poderia ter sido forjado desta maneira? “Forma” então teria sido moldada28 no calor29 da fornalha30, fogo31? “Forma”, e consequentemente “informação”, viria desse amálgama, dessa fusão, dessa fornalha? Mito da Forma, como um mito da chegada do fogo.
Com base em todos esse breve e limitado levantamento etimológico e filológico até aqui, arrisco a levantar uma conjectura adicional sobre a originem da palavra forma.
Viria do (proto-)indo-europeu indicando forma e beleza, inicialmente associada às formas femininas consideradas como belas e talvez pela raiz \(*merg^{wh}-\) que derivaria posteriormente em morfé.
Talvez “forma” e “beleza” já neste momento estivessem ligadas à mitos, lendas e concepções sobre a origem da mulher – por exemplo, de que teria sido moldada por um demiurgo, cortada a partir de outro corpo e modelada até adquirir uma beleza sedutora.
Forma e beleza vão paulatinamente sendo associadas, no uso corriqueiro e também nas concepções e traduções de conceitos filosóficos e religiosos.
Chega ao ponto de que forma, já na época de Donatus, passa a ser associada também ao calor e aos fornos, a ponto dessa conexão ser retrospectivamente interpretada como o processo de originação da palavra forma.
Não esqueçamos de Pandora, que dentro da mitologia grega seria a primeira mulher, forjada/construída/moldada a partir do trabalho do deus grego Hefesto para ser bela e sedutora mas trazendo males à humanidade. Citando os versos originais seguidos pela tradução32:
ὣς ἔφατ᾽: ἐκ δ᾽ ἐγέλασσε πατὴρ ἀνδρῶν τε θεῶν τε. 60Ἥφαιστον δ᾽ ἐκέλευσε περικλυτὸν ὅττι τάχιστα [60] γαῖαν ὕδει φύρειν, ἐν δ᾽ ἀνθρώπου θέμεν αὐδὴν καὶ σθένος, ἀθανάτῃς δὲ θεῇς εἰς ὦπα ἐίσκειν παρθενικῆς καλὸν εἶδος ἐπήρατον: αὐτὰρ Ἀθήνην ἔργα διδασκῆσαι, πολυδαίδαλον ἱστὸν ὑφαίνειν:
Disse assim e gargalhou o pai dos homens e dos deuses [Zeus]; ordenou então ao ínclito Hefesto muito velozmente [60] terra à água misturar e aí pôr humana voz e força, e assemelhar de rosto às deusas imortais esta bela e deleitável forma de virgem; e a Atena ensinar os trabalhos, o polidedáleo tecido tecer
Hefesto é um deus artesão, da forjaria, da escultura, da metalurgia, da técnica, do fogo e dos vulcões. O processo de formação de Pandora é narrado como tendo ocorrido a partir da mistura de terra e água, o que implicitamente requer um trabalho escultural, possivelmente com o uso de um forno para pôr “força humana” (σθένος, “força”).
Repare que Hesíodo não usa a palavra morfé (que viria de \(*mergh\), garota), mas sim eidos (“παρθενικῆς καλὸν εἶδος ἐπήρατον” [lovely maiden-shape?], também no sentido de forma aparente.
Talvez este não seja um problema se considerarmos que Hesíodo não é a fonte do mito, e sim um dos contadores/narradores. Quando escreveu, tais histórias já estariam sólidas na cultura, assim cono as palavras eidos, morfé etc.
A peça Danae, de Navius, também tem um enredo compatível com esta conjectura, em que uma bela donzela traria consigo um perigo futuro, e por isso é aprisionada, como explica Warmington (1936)33:
Acrisius, King of Argos, in fear of an oracle which declared that the son of his daughter Danae would slay his grandfather, imprisoned Danae in a dungeon underground or in a brazen tower. In spite of careful watch kept by Acrisius, Danae was visited by Jupiter (or, according to one version, Proteus her uncle) in the form of a shower of gold, and gave birth to Perseus.
Navius usa expressões muito parecidas às de Hesíodo para se referir à forma feminina e sedutora.
Posteriormente toda essa carga mítica na palavra teria sido reduzida com o uso cotidiano, mas preservando a carga simbólica do ato de formar/moldar algo que seja eficaz e eficiente em seus desígnios. No caso de Pandora, seria a eficácia de Zeus em seduzir os homens com uma forma perfeita para esse propósito. A forma aparente de Pandora seria a da beleza perfeita, ideal. A noção de de forma ganharia aí sua conotação de forma modelar, ideal, efetiva.
Ou seja, tudo indica que a palavra forma não vem da palavra forno ou do calor, mas que desde muito cedo foi a estes associada, através de mitos sobre o surgimento de seres, pessoas e objetos, e em especial a um suposto advento da mulher, a quem fora atribuída beleza e ardilosidade.
Ressaltemos que essa conhectura é incerta e interpretativa.
Incerta e frágil, porém potente.
Forma poderia ter vindo, por analogia, da técnica.
Ainda estou trabalhando nela. Não sei se ela vai parar em pé por muito tempo ou se precisará ser descartada. Ao menos ela nos dá uma noção de como o surgimento da palavra forma está envolta em mistérios que atiçam nossa imaginação.
Isto colocaria o conceito de forma ainda mais na centralidade do pensamento ocidental prevalente. Forma, beleza, técnica, calor e perigo.
3.3.4 Formatação
Mesmo com todas essas conjecturas, ainda não sabemos dizer muito bem de onde vem essa palavra.
O que podemos afirmar é que desde cedo que ela é fundamental no latim para explicar diversos conceitos e fenômenos, e tudo indica que forma já era uma palavra pré-existente no momento em que os quatro termos platônico-aristotélicos foram traduzidos do grego, isto é, forma não foi uma palavra criada pelos tradutores de textos: ela já existia no latim enquanto uma palavra usual (tendo ou não sido derivada do grego).
Em especial, é através da palavra forma que são traduzidos uma série de conceitos platônicos e aristotélicos originalmente expressos por τύπος (typos), μορφή (morfé), εἶδος (eidos) e ἰδέα (idea), e que formam base para outros conceitos traduzidos como informação.
É importante aqui diferenciarmos as palavras dos conceitos. Grosso modo, digamos que os conceitos são explicações e usos mais específicos de uma palavra, muitas vezes associados a uma linha de pensamento ou autorias filosóficas, enquanto que a palavra seria o termo que abarca todos seus significados já utilizados. Um conceito diz respeito a significados específicos de uma palavra.34.
É aqui que já ocorre traduções ao latim de diversos conceitos gregos tanto para a palavra fōrma quanto para infōrmo e infōrmātio3536:
Los conceptos griegos traducidos en latín como forma, y en especial las interpretaciones de Platón y Aristóteles, subyacen etimológica e históricamente a toda la evolución semántica del concepto de información. Esta afirmación, que expresa la tesis sobre el origen griego del concepto de información, se demostrará recién en la presentación de la evolución del concepto de información. Los análisis que siguen a continuación son solamente de carácter heurístico. Ellos presentan textos selectos de Platón (427/348 a.C.) y Aristóteles (384-322 a.C.), en los que se muestran los significados más importantes de estos términos griegos relacionados con la etimología y la historia del concepto de información.
La selección de estos textos no es por tanto arbitraria, sino que tiene lugar en vistas a textos o problemas que son tratados en las interpretaciones antiguas, medievales, modernas y actuales del concepto de información. La interpretación de estos textos platónicos y aristotélicos está en estrecha relación con los sentidos del término latino informatio en la Antigüedad (Cicerón, Agustín) y en la Edad Media (Alberto Magno, Tomás de Aquino, Nicolás de Cusa).
[…] En la interpretación de los textos se hará referencia a los significados que aparecen en la evolución del concepto de información. Al escribir in-formación e in-formar queremos hacer explícita la relación etimológica e histórica con el origen griego.
3.3.5 Tipificação
Segundo Capurro (2022)37 τύπος (typos),
significa en general la forma externa de un objeto, su figura, y es usado por Platón y Aristóteles de la misma manera que μορφή (morfé), εἶδος (eidos) / ἰδέα (idea) en sentido ontológico, epistemológico y pedagógico. Este es el fundamento que permite entender la evolución etimológica y de historia de las ideas del concepto de información. Ordenamos los significados de τύπος (typos) en tres grupos, de acuerdo con los comprobantes: 1) impresión, 2) sello, 3) esbozo.
Enquanto impressão, Capurro (2022) nos conta o seguinte de τύπος 38:
Percibir y conocer pueden ser comparados, escribe Platón, con la impresión en una tablilla de cera,51 cuando aquello que hemos oído, visto o pensado es impreso o in-formado ἀποτυποῦσθαι (apotypousthai) en nuestra alma “como al imprimir con el sello de un anillo” (Theaet 191d).52 El alma así formada o in-formada contiene las impresiones (τύπον, typon) de las cosas percibidas. Este proceso de in-formación es a la vez un proceso de conocimiento y de aprendizaje. La verdad consiste en la relación correcta entre las imágenes (τύπους, typous) y las copias (ἀποτυπώματα, apotypómeta) (Theaet. 194b). Todo depende de si las marcas son finas y suficientemente profundas para no ser confundidas. Cuando la cera está húmeda, el aprendizaje es más fácil (Theaet. 194d-e).
Esta famosa comparación del alma con una tablilla de cera que Platón interpreta en el diálogo Teeteto y Aristóteles en Sobre el alma está en relación muy estrecha con los significados epistemológicos y pedagógicos del concepto de información. Sin entrar ahora en la crítica que hace Platon a esta comparación, remitimos a la concepción platónica del proceso del conocimiento en el contexto de su pregunta sobre las ideas […]. En la interpretación del concepto de εἶδος (eidos) retomamos esta comparación en el uso que hace Aristóteles de ella […] Agustín, cuyo pensamiento fue influenciado por la filosofía platónica, llama al proceso sensorial informatio sensus y lo compara con la impresión de un anillo en la cera […]
El concepto de τύπος (typos) también juega un rol en relación con saber y aprender en el diálogo platónico Fedro. Platón narra la historia del invento de la escritura (Phaedr. 274c-275d) por el dios egipcio Thot, que corresponde al Hermes de la mitología griega.[53] Thot presentó su invento al rey Tamus, diciéndole que los egipcios iban a ser más sabios y tener mejor memoria. Thamus temía que con este invento los egipcios iban a descuidar el recordar, obteniendo sólo una sabiduría aparente, ya que confiando en la escritura iban a recordar sólo “a través de signos ajenos” (ὑπ᾽ ἀλλοτρίων τύπων, hyp‘ allotrion tupon) (Phaedr. 275a) en lugar de hacerlo internamente por sí mismos. Typos (τύπος) significa la letra impresa o in-formada.54 Platón contrapone la escritura como lenguaje fijo o in-formado (λόγος, logos) a la “escritura interior”, un saber (ἐπιστήμη, episteme) en el alma del aprendiz. La escritura es solamente un ayuda a la memoria para quien ya sabe de lo que se trata (τὸν εἰδότα, ton eidóta) (Phaedr. 275d).[55] Para Platón el conocimiento de la cosa misma, la ἰδέα (idea), es previo a la obtención de conocimientos escritos […]
Platón distingue entre un saber sensorial, o fijado sensiblemente, y un saber suprasensible. Esta diferencia es un fundamento del pensamiento de Agustín con referencia al proceso in-formacional de la percepción sensible y del conocimiento (informatio sensus y cogitationis) y el conocimiento de las formas esenciales en la visión beatifica (informatio civitatis sanctae).
Já sobre selo/estampa39,
En La república describe Platón el proceso de educación como un modelar las almas (πλάττειν τὰς ψυχὰς, plattein tas psychas) (rep. 377c). El educado in-forma el alma de un niño en base a un modelo (τyπος, typos) así como lo hace el artesano. El modelo de acuerdo con el cual el hombre es modelado es para Platón la ἰδέα (idea) del bien. El hombre educado con ese modelo es el hombre bueno (ἀνδρὸς ἀγαθοῦ, andros agathou), reacio a dejarse “im-presionar” por malos modelos (τῶν κακιόνων τύπους, ton kakionon typous) (rep. 396 c-e).
Com relação a esboço40,
[…] hay una relación estrecha entre τύπος (typos) y λόγος (logos). Esta relación es la base del concepto de información en sentido de esbozo conceptual. Platón escribe, por ejemplo: “Tienes ya el esbozo (τὸν τύπον, ton typon) de lo que digo” (rep. 491c). En la Ética a Nicómaco Aristóteles indica que su intención es una exposición conceptual que corresponda al objeto a tratar, siendo así que, en este caso, la verdad sólo puede ser esbozada (τύπῳ, typo) (Et. Nic. 1094 b 20). En el diálogo Crátilo escribe Platón que las letras, palabras y frases son sólo un esbozo de las cosas (ὁ τύπος ἐνῇ τοῦ πράγματος, ho typos ene tou pragmatos) (Crat. 432e)
3.3.6 Morfização
Segundo Capurro (2022), existem algumas diferenças sutis em como Platão e Aristóteles usa as palavras μορφή (morfé), εἶδος (eidos), ἰδέα (idea) e τύπος (typos)41:
Tanto para Platón como para Aristóteles el concepto de μορφή (morfé) está íntimamente ligado a εἶδος (eidos) / ἰδέα (idea) así como a τύπος (typos) en sentido de forma exterior. Pero, a diferencia de este significado, εἶδος (eidos) se usa en sentido de la especie común o lo común a individuos concretos, mientras que ἰδέα (idea) es la imagen originaria (Urbild) en sentido platónico. Sin embargo, como mostraremos, varían los significados de εἶδος (eidos) e ἰδέα (idea). Mientras que Platón usa poco el término μορφή (morfé), este tiene un significado filosófico sólido en Aristóteles, en sentido de principio del ente.
No caso, μορφή (morfé) estaria mais associada à forma externa (imagem) ou princípio do ser42:
En el diálogo La república pregunta Platón si dios es un mago capaz de aparecer en diversas formas (ἐν ἄλλαις ἰδέαις, en allais ideais) mostrando su esencia (τὸ αὑτοῦ εἶδος, to autou eidos) en diversas formas externas (εἰς πολλὰς μορφάς, eis pollas morphas) (rep. 380d). Esto lleva a reflexionar sobre qué cosas pueden cambiar su forma, es decir, pueden dejarse in-formar. […] Platón deduce que la posibilidad de que los entes cambien su forma o que sean in-formados nuevamente depende de su grado de imperfección. El dios es en todo sentido perfecto y no puede tener muchas formas (πολλὰς μορφάς, pollás morphás).
Si bien Aristóteles utiliza el término μορφή (morfé) en sentido de imagen externa,[…] este término tiene el significado básico de principio del ente.
[…]
El concepto de μορφή (morfé) juega un rol central en la dualidad ontológica aristotélica: forma (μορφή, morfé / εἶδος, eidos) y materia (ὕλη, hyle / ὑποκεμείνον, hypokeimenon).
Los términos μορφὴ (morfé) y εἶδος (eidos) son mencionados a menudo juntos. Hay dos maneras de designar la esencia (οὐσία, ousía) del ente: materia (ὑποκείμενον, hypokeimenon) y forma o esencia (ἡ μορφὴ καὶ τὸ εἶδος, he morfé kai to eidos) (Metaph. 1017 b 20).
[…] también es usado por Aristóteles en relación con la experiencia sensorial cuando escribe, por ejemplo, que “es evidente que la forma (εἶδος, eidos), o como se quiera llamar a la forma percibida por medio de los sentidos, no se genera” (τὴν ἐν τῷ αἰσθητῷ μορφήν, οὐ γίγνεται, ten en to aistheto morfen, ou gígnetai) (Metaph. 1033 b 5). Günther Patzig señala que el concepto aristotélico de μορφή (morfé) es usado habitualmente en relación con εἶδος (eidos), ἐνέργεια (energeia), λόγος (logos), etc., estando generalmente en segundo lugar, es decir, que tiene un sentido explicativo como en el texto recién citado. El término μορφή (morfé) tendría entonces una función mediadora entre la terminología aristotélica y el lenguaje diario.[58]
[…]
El término μορφή (morfé), en sentido de principio del ente, designa algo permanente; es lo que hace la esencia de las cosas. Sólo lo que es concreto surge, mientras que μορφή (morfé) es el principio de la realización (ἐνέργεια, energeia) de una sustancia como materia (τὸ μὲν ὑποκείμενον ὡς ὕλη, to hypokeimenon hos hyle) en potencia (δuνάμει dynamei). ¿Qué es la calma del mar? pregunta Aristóteles, una planicie marina. El mar es la materia, la planicie su realización y forma (ἡ δὲ ἐνέργεια καὶ ἡ μορφὴ, he de energeia kai he morfé) (Metaph. 1043 a 259). El ente percibido por medio de los sentidos existe, por un lado, como materia (ὕλη, hyle) y, por otro lado, como forma y realización (μορφὴ καὶ ἐνέργεια morfé kai energeia) (Metaph. 1043 a 25-29).
Es particularmente en la filosofía escolástica influenciada por Aristóteles donde el concepto de informatio materiae está en relación directa con el sentido ontológico del concepto de μορφή (morfé). Para Tomás de Aquino, por ejemplo, informatio materiae no es otra cosa que actus materiae, es decir, la realización o la in-formación de una materia en potencia por una forma […] En base a estos sentidos ontológicos y epistemológicos del concepto de información medieval surge el concepto moderno de información como comunicación del conocimiento […] En las definiciones científicas y filosóficas actuales se dan también los momentos de seleccionar, inspeccionar, dominar, así como cambiar, distinguir y orientación (visual) práctica, que tienen su origen en la etimología y la historia del concepto de μορφή (morfé)
3.3.7 Ideação
Sobre εἶδος (eidos) e ἰδέα (idea), nos conta Capurro (2022) que43:
Los conceptos de εἶδος (eidos) e ἰδέα (idea), así como τύπος (typos) y μορφή (morfé), significan en general forma o imagen percibida. Tanto Platón como Aristóteles los usan así, pero ambos los reinterpretan en sentido ontológico y epistemológico. Tanto el sentido general como el sentido filosófico especial subyacen a la evolución semántica del concepto de información. La herencia de este origen se manifiesta, por ejemplo, en el concepto de informatio deorum en Cicerón, que significa tanto las imágenes de los dioses o su apariencia como su esencia y naturaleza […] Este origen etimológico e histórico del concepto de información se acentúa cuando las interpretaciones platónicas o aristotélicas son explícitas
Por otro lado, hay que destacar que las interpretaciones de Platón y Aristóteles no muestran una diferencia exacta entre εἶδος (eidos) / ἰδέα (idea).
Nestas concepções, a palavra εἶδος (eidos) se usa no sentido de espécie comum, ou aquilo que é comum a indivíduos concretos. Já ἰδέα (idea) seria44
la imagen originaria (Urbild) en sentido platónico
3.3.8 Teorização
Assim nos é resumida a “Teoria” Platônia das Ideias45:
La pregunta por las ideas en Platón La así llamada teoría platónica de las ideas es más bien una pregunta o un impulso que una teoría. […]
Para Hans-Georg Gadamer, el diálogo Crátilo es “el texto fundamental del pensamiento griego sobre el lenguaje”.[64] En este diálogo, Platón trata de la relación entre lenguaje y realidad o de “la rectitud de los nombres” (ὀνόματος ὀρθότητα, onómatos orthoteta, Crat. 383a), es decir, de la pregunta sobre hasta qué punto el lenguaje nos da una información correcta sobre la realidad, o bien hasta qué punto nuestro conocimiento de la realidad puede expresarse o in-formarse en el lenguaje.
Platón compara al creador de palabras con un carpintero al que se le rompe la lanzadera de tejedor y vuelve a hacer otra semejante (τὸ εἶδος, to eidos, Crat. 389b) o con un herrero que imprime “la misma imagen” (τὴν αὐτὴν ἰδέαν, ten autén idean, Crat. 389e) en el mismo hierro. La pregunta es entonces si en las cosas hay formas originarias (εἶδη, eide) […] En este caso, el creador de palabras in-formaría el lenguaje de acuerdo con ellas.
[…]
En la famosa alegoría de la caverna (rep. 514ss) describe Platón el camino hacia las ideas. Partiendo de la sabiduría de la caverna, que es un saber sobre lo percibible a través de los sentidos, alcanza el hombre un saber esencial o meta-sensible sobre los entes. Todo lo que ha visto lo ve en su totalidad en la idea del bien (τὴν τοῦ ἀγαθοῦ ἰδέαν, ten tou agathou idean, rep. 508e). Las ideas son la esencia de los entes sensibles.
[…]
La “visibilidad” significa la posibilidad de ser designado. Lo denotado es, por otra parte, lo que un ente es, su significado. Por eso, como indica Andreas Graeser, las ideas son un híbrido de significado y designación.[67] Ellas son mediadas por el lenguaje, pero al mismo tiempo son independientes de él, es decir, posibilitan originariamente la in-formación del conocimiento y del lenguaje. Pero el punto crucial del platonismo consiste en saber cómo objetos no lingüísticos pueden ser mediados por el lenguaje sin que surja la duda fundamental sobre si son correctos o no. Esto es lo que hace que las ideas no sean una teoría, sino una pregunta.
Hay que indicar además el trasfondo pedagógico de la pregunta platónica por las ideas y, en especial, en la alegoría de la caverna. La educación humana no es solamente una formación o in-formación del conocimiento, sino de la moralidad, puesto que el grado más alto del conocimiento es la idea del bien. El conocimiento de las ideas tiene sentido en último término en vistas a la orientación de la acción moral, que es propia del ser humano. Los momentos epistemológicos, filosófico-lingüísticos, ontológicos y pedagógicos coinciden en la pregunta platónica por las ideas, y desde aquí en las interpretaciones del concepto de información.
[…]
[…] En el Timeo Platón expone la relación ontológica de las ideas con los entes. Él menciona un tercer género, que es “capaz de recibir toda generación como una nodriza” (Tim. 49a), “totalmente informe y careciendo de todas las formas esenciales que puedan advenir” (πλὴν ἄμο ρφον ὂν ἐκείνων ἁπασῶν τῶν ἰδεῶν ὅσας μέλλοι δέχεσθαί ποθεν, plen amorphon on ekeinon hapason ton ideon hosas melloi dechesthai pothen) (Tim. 50d 2). Este tercer género, semejante, como veremos, a la materia aristotélica, es in-formado por las ideas. Las ideas, escribe Aristóteles sobre Platón, son la causa de que cada cosa pueda ser algo determinado (Metaph. 988 a 10ss), y la idea del bien o del uno es la forma de las formas puras, que posibilita toda formación o in-formación.
La pregunta platónica por las ideas tiene una amplia repercusión en los significados ontológicos, epistemológicos y pedagógicos del concepto de información, como se puede constatar, por ejemplo, en los comentarios sobre el diálogo Timeo de Apuleius (siglo II d. C.) […] Esta influencia vale también para el pensamiento cristiano-platónico de Agustín, para quien Dios es la forma simplex. En Dios tiene lugar la iluminación de la sociedad celeste (informatio civitatis sanctae) […] La interpretación epistemológica del concepto de información en la antropología dualista de Descartes está en íntima relación con la actividad de la “ideas” que nos trasmiten el conocimiento, es decir, que nos informan […]
William Whewell (1794-1866) concibe el proceso del conocimiento como un proceso informacional en el cual las sensaciones son in-formadas por “Ideas” a priori […] Finalmente, en la discusión científica y filosófica actual se discute sobre el concepto de información como forma o estructura refiriéndose explícitamente a la concepción platónica del concepto de forma
Já em Aristóteles estes conceitos ganham também um fundo biológico, como no caso de eidos46:
Klaus Oehler ha llamado la atención sobre “los orígenes bio-lógicos de la teoría aristotélica del εἶδος (eidos), entendiendo la palabra ‚bio-lógicos‘ en sentido metafísico desde la filosofía de la naturaleza”.68 La forma, el εἶδος (eidos), es para Aristóteles algo general. Los individuos son diferentes debido a la materia (ὕλη hyle) pero idénticos en lo que se refiere a la forma (Metaph. 1034 a 5-8). Oehler escribe:
Oehler escribe: En tanto que la esencia de las cosas reside para Aristóteles en su forma, y esta constituye el contenido del concepto de una cosa, puede concebir la forma esencial de una cosa también como su concepto, que le es inmanente y la constituye en su ‚ser así‘. Desde esta perspectiva, el concepto de esencia o especie no es meramente noético, en el sentido que tendría su lugar sólo en el pensamiento, sino que existe al mismo tiempo en las cosas mismas, y el concepto de esencia como unidad noética en el pensamiento es sólo una correspondencia adecuada. Esta proposición es cierta en toda su extensión en el campo de los entes vivientes, donde géneros y especies se realizan en la forma más clara.69
Este origen bio-lógico del concepto de εἶδος (eidos) se manifiesta por ejemplo en la teoría de la herencia: portador y trasmisor del principio reproductor y de la forma (εἶδος, eidos) es el semen, el cual trasmite, como un instrumento, forma y movimiento a la sangre menstrual femenina (las catamenias) (De gen. anim. 728 ss). […]
Como indica Erna Lesky, tanto Aristóteles como Platón sostienen una concepción epigenética de la evolución del germen, en oposición a la visión preformista de, por ejemplo, Anaxágoras. De acuerdo con esta concepción, los órganos no están preformados en el semen, sino que se desarrollan cuando el semen masculino provoca como impulso del movimiento una reacción en cadena en la materia femenina, dando lugar al acto de lo que estaba en potencia de desarrollarse.[70]
Varro (116-27 a.C.), que también sostiene una concepción epigenética de la teoría biológica de la herencia, usa el término informo en relación el proceso de generación […] Para Tomás de Aquino la vida opera per modum informationis […] En la Edad Moderna, Johann Friedrich Blumenbach (1752-1840) acuña el concepto de nisus formativus […], que puede entenderse como una formulación pre-genética del concepto actual de información genética hereditaria […]
La cosa individual es lo que es por la forma. Esta no es separable (οὐ χωριστή, ou choristé) de la cosa individual, la cual está constituída esencialmente por la forma. Forma, materia, causa eficiente y causa final son los cuatro principios fundamentales aristotélicos. Todo en el ámbito sub-lunar está formado por materia y forma, es decir, todo lo que es generado y perece tiene una forma diferente. Pero materia y forma no perecen
[…]
En cierto sentido la concepción aristotélica se acerca a la platónica.
[…]
La interpretación aristotélica del concepto de εἶδος (eidos), como un principio permanente en la realidad sin existencia autónoma, es el fundamento de los significados ontológicos del concepto de información en la escolástica. Así, por ejemplo, para Tomás de Aquino, quien concibe el cuerpo viviene gracias al alma como informatio materiae, por lo que la materia en potencia se actualiza como siendo gracias a la forma. Las formas son, por otro lado, nada más que actus materiae y no tienen una existencia propia. Lo que es, es el compuesto (compositum) […]
Forma e matéria também são conceitos importantes na epistemologia aristotélica47:
Finalmente, se ha de tratar otro significado de la teoría aristotélica de forma y materia, como es el epistemológico. En De anima analiza Aristóteles los procesos de percepción y conocimiento y describe la acogida de las formas sensorialmente perceptibles (τῶν αἰσθητῶν εἰδῶν, ton aistheton aidon), que tiene lugar “sin la materia” (ἄνευ τῆς ὕλης, aneu tes hyles), “de manera semejante a como la cera que acoje el signo del anillo sin el hierro y el oro” (οἷον ὁ κηρὸς τοῦ δακτυλίου ἄνευ τοῦ σιδήρου καὶ τοῦ χρυσοῦ δέχεται τὸ σημεῖον, oion ho keros tou daktyliou aneu tou siderou kai tou chrysou dechetai to semeion) (De an. 424 a 17). No se trata, precisa Aristóteles, de un proceso material por el cual lo opuesto es eliminado, sino de una transformación de lo que, en cierto modo, es decir, potencialmente (δυνάμει, dynamei) existe ya, pero cuyo fin ha de ser actualizado (ἐντελέχειαν, entelecheian) (De an. 417 b 1-6).
Las capacidades de percepción, representación y pensamiento son in-formadas por las formas sensibles, representadas y pensadas (τὰ αἰσθητά, τὰ φαντάσματα, τὰ νοητά, ta aisthetá, ta phantasmata, ta noeta), siendo así que existe una relación estrecha entre las formas representadas y las pensadas[…] El proceso del conocimiento es por tanto un proceso in-formacional en el cual, en base a la concepción ontológica del concepto de εἶδος (eidos) como algo presente e inherente en el proceso de la vida, las etapas del conocimiento que conducen al reconocimiento de este principio dependen unas de otras.
[…]
La ontología y la antropología de Aristóteles se distinguen de esta manera del pensamiento dualista platónico, que se pone de manifiesto en su interpretación del concepto de forma. Mientras que para Platón las ideas son esencias que existen independientemente de los objetos percibibles sensorialmente, las formas de pensamiento son para Aristóteles solamente en potencia formas del pensamiento y sólo actualizadas en la actualización de los objetos. La capacidad de pensar puede acoger las formas, es decir, dejarse in-formar. La in-formación misma no es una cosa, sino que recibe cada cosa solamente de acuerdo con su forma. Ella es, en cierta manera “como una tablilla para escribir en la que no hay nada escrito actualmente” (De an. 430 a 1-2).
[…]
[…] En base a este proceso in-formacional, que en definitiva es posible por la actividad del “intelecto agente” (νοῦς ποιητικός, nous poietikos), el hombre puede comprender la esencia de las cosas. A la naturaleza de las cosas, que son una unidad de materia y forma, corresponde la unidad del pensar, que, por un lado, se relaciona con la capacidad sensorial y, por otro, con poder contemplar las formas.
In-formar um corpo externamente, para que ele adquira um formato e comportamento específico, não soa hoje como uma explicação de processos colonizadores?
3.3.9 Informização
Da forma para a informação (informo e informatio), houve mais transformação.
Na passagem do grego para o latim, vários conceitos com vários sentidos são traduzidos como informo/informatio. Segundo Capurro (2022), os sentidos dos termos gregos originários estariam divididos em “momentos ontológicos” e “momentos epistemológicos”. Não dá para saber com certeza se os tradutores deram novos significados para informo e informatio ou meramente se aproveitaram dos existentes. Minha impressão, lendo a tese de Capurro (2022), é de que usaram a palavra que mais se aproximava do sentido original – de acordo com o entendimento deles –, mas nesta manobra acabaram por adicionar significados à palavra existente.
Usando uma analogia auto-referente, poderíamos dizer então que da passagem do grego para o latim, alguma informação foi perdida mas alguma também foi ganha.
Dicionários etimológicos: informação:
Significado inicial50:
What is “information”? Informatio originally meant the formation of matter, its acquisition of a form. “Information thus implies, on the one hand, the stamping and, on the other, information-giving, upon which the informed being reacts” (Heidegger and Fink HS, 14).
A convergência dos conceitos informativos51:
diversos conceptos griegos que fueron traducidos al latín - hasta alrededor del siglo VIII d. C. - por medio de informatio / informo. Se trata de los términos siguientes:
ὑποτύπωσις (hypotyposis) διάταξιν (diataxin) χαρακτηρισµός (charakterismos) ἐντυποῦν (entypoun) πείθω (peitho) μανθάνω (manthano) πρόληψις (prolepsis)
ὑποτύπωσις (hypotyposis) e ἐντυποῦν (entypoun)52:
Tanto ὑποτύπωσις (hypotyposis) como ἐντυποῦν (entypoun) se derivan de τύπος (typos). El término ὑποτύπωσις (hypotyposis) es usado en el Nuevo Testamento en sentido pedagógico o ético, de ejemplo (1 Tim. 1, 16), y es traducido como informatio en el Codex Itala (Vetus Latina), del siglo II
- C., una de las antiguas traducciones de la Biblia […] Como ya indicamos, τύπος (typos) tiene el significado de ejemplo en sentido pedagógico, lo que muestra la relación etimológica e histórica entre el origen griego y el concepto de información. Hay que señalar también que el sustantivo ὑποτύπωσις (hypotyposis) no aparece ni en Platón ni en Aristóteles,[80] pero sí el verbo ὑποτυπόω (hypotypoo), que Platón usa en sentido organológico (formación de las uñas) y Aristóteles en el sentido de esbozo verbal. 81 En ambos sentidos se usa también el concepto de información en latín […]
El verbo ὑποτυπόω (hypotypoo) se deriva también de τύπος (typos) y es usado tanto en sentido artificial de grabar como en sentido pedagógico de imprimir una enseñanza en el alma. Archelaus (siglo V d. C.) traduce ἐντυποῦν (entypoun) como informo en el sentido de grabar letras en la piedra, y Rufinus (345-410 d. C.) usa informo, como ya indicamos, para traducir el término término ἐντυποῦται ταῖς ψυχαῖς (entypoutai tais psychais), en sentido de imprimir o in-formar una doctrina en la mente
χαρακτηρισµός (charakterismos)53:
la descripción del comportamiento de una persona, que se designa con el término χαρακτηρισµός (charakterismos), el cual fue traducido mediante informatio. En este contexto hay que recordar que el concepto de forma también se usa como traducción de χαρακτήρ (charakter) (forma de ser)
μανθάνω (manthano) e πείθω (peitho)54:
varios conceptos pedagógicos y retóricos fueron traducidos por medio de informatio / informo. Así, por ejemplo, Dionysios Exiguus (ca. 500-545 d. C.) traduce μανθάνω (manthano) (aprender) y πείθω (peitho) (persuadir) mediante informo
διάταξιν (diataxin)55:
Chalcidius (siglo IV-V d. C.) traduce el concepto platónico de διάταξιν (diataxin) (Tim. 42e), es decir, ordenamiento u orden, como informatio. El término διάταξιν (diataxin) se refiere también a la ordenación de tropas militares y de los elementos en el universo. Estos momentos de ordenar, formar y presentar, que son propios tanto de διάταξιν (diataxin) como de τύπος (typos), aparecen también en los sentidos artificiales y pedagógicos del concepto de información
πρόληψις (prolepsis)56:
Con respecto al concepto de πρόληψις (prolepsis), se trata de un concepto fundamental de la epistemología de Epicuro (341-270 d. C.) y denota las representaciones de las formas externas μορφή (morfé) de los objetos. Cicerón (106-43 a. C.) traduce πρόληψις (prolepsis) como informatio, pero informatio tiene también el sentido de conocimiento de la esencia (εἶδος, eidos, ἰδέα, idea) de los objetos representados.
Tabelas: “Origen etimológico e histórico de los conceptos griegos que fueron traducidos con informatio / informo en latín”57.
O emprego de informo/informatio:
Campos de aplicação das palavras informo e informatio58:
Basándonos en los artículos informatio e informo del “Thesaurus Linguae Latinae” analizamos la evolución de los significados del concepto de información hasta el siglo VIII d. C.
Estos son los campos de aplicación en los que ocurre:
campo artificial y organológico: información significa formar una materia o un organismo en el proceso de su generación;
campo filosófico: información tiene un sentido ontológico (formar la materia) y epistemológico (formar el conocimiento);
campo pedagógico: información significa el proceso de educación e instrucción.
Capurro (2022) pág. 75:
Informatio es el sustantivo del verbo informo. Tales sustantivaciones expresan “una acción terminada o un efecto o un estado, a veces también, como en el caso de las que terminan con -tio, una acción que está sucediendo”. 91 Los términos informatio e informo se basan en el concepto de forma que traduce todos los significados de los términos griegos τύπος (typos), μορφή (morfé), εἶδος (eidos), ἰδέα (idea). El prefijo “in” en relación con el término forma puede significar tanto la intensificación como la ubicación de la acción de formar y en este caso corresponde al griego ἐν (en), pero también puede significar una negación y en este caso corresponde al prefijo ἀν (an). 92
El concepto latino de información se refiere a los derivados de forma con el prefijo “in” en sentido de intensificación o ubicación de una acción. Estos derivados son:
informatio: formación, diseño informator: escultor, maestro informatus: formado, educado informo: formar, diseñar
Los derivados de forma con el prefijo “in” en el sentido de negación son:
informabilis: lo que no puede ser formado informia: cosas que no tienen una forma (bella) informis: sin forma, mal formado, deformado
Significados elencados no “Thesaurus Linguae Latinae”59:
Informatio significa en general, como lo indica la terminación -tio, el acto de formar (actus formandi) así como el resultado (status informati). En el caso de informo el prefijo “in” tiene el sentido de intensificación o ubicación de una acción. Informo significa por tanto comenzar a formar algo (incohare), dar alguna (quandam) forma a algo (aliquatenus formare), así como con respecto a ubicación: imprimir, insertar (formando imprimere, infigere). 94 Informatio aparece en genitivo subjetivo, objetivo y explicativo.
[…]
[…] Los comprobantes abarcan el período desde el latín clásico hasta el siglo VIII d. C. Tanto en el caso de informatio como de informo los comprobantes están divididos en dos grandes grupos:
Formar un objeto material (corporaliter): el concepto de información es usado en los campos artificiales y organológicos en el sentido de crear (creare), hacer (fieri), generar (nasci);
Formar un objeto inmaterial (incorporaliter) o sea formación del conocimiento: en este caso se trata del campo filosófico y en especial epistemológico. Se indican especialmente los significados “activos” de aclarar (adumbratio), definir (definitio), probar (demostratio) etc. así como formación del conocimiento (genitivo subjetivo), y los significados “pasivos” en el sentido de formación del conocimiento (genitivo objetivo) como ser enseñar o comunicar un tema (de animo erudiendo, imbuendo, instruere), un ejemplo o modelo (exemplum), una orden (iussionem), una doctrina (doctrinam), etc.
Três grandes campos em que o conceito latino de informação é aplicado60:
campos de aplicación artificial y organológico: información es usado en sentido de formar un objeto o un organismo,
campo de aplicación filosófico: information es usado en sentido de formación del conocimiento (genitivus subiectivus y obiectivus),
campo de aplicación pedagógico: información es usado en sentido de trasmisión del conocimiento y de formación moral.
Dada a complexidade dos significados, não se pode simplificar o conceito latino de informação usando um modelo único61:
como lo muestra la exposición general, el uso del concepto de información y sus interpretaciones no se pueden simplificar reduciéndolos a un modelo único. Estas interpretaciones ejemplares tienen lugar desde el trasfondo de esta complejidad que fue mostrada en la exposición general y ofrecen una explicación más detallada de tres autores que son relevantes para la historia del concepto de información. Estos autores estuvieron de diversas formas en interacción con la filosofía griega y especialmente con Platón y Aristóteles. Con respecto a la interpretación del concepto de información se constata la influencia de Platón en Agustín y de Aristóteles en Tomás de Aquino. Sin embargo, hay que destacar que en ambos autores se trata de una síntesis entre el pensamiento griego y la fe cristiana que se manifiesta en las interpretaciones ontológicas, epistemológicas y pedagógicas. Estas remiten siempre al origen griego, pero a causa del contexto filosófico-teológico van más allá del mismo.
Informação como seleção de possibilidades62.
Educação (informação) das regras morais e leis de um Estado em Cícero63.
Ambiguidade no conceito de informação: tanto forma aparente como essência, por exemplo em Capurro (2022).
Resumo sobre a ideia aristotélico-escolástica de informação, incluindo a individuação64.
Vale uma seleção adicional de trechos de Capurro (2022).
A forma da forma:
É notável também é o aparte de Capurro (2022) págs. 70-73 dizendo que, curiosamente, o conceito grego de mensagem é dado pela palavra ἀγγελία (angelía), que tem a ver com nossos conceitos atuais de informação mas que em nada influiu a palavra “informação” originalmente:
El concepto griego de mensaje pertenecía también al lenguaje de la vida pública, de los torneos y de los soberanos, y no al de la filosofía y la pedagogía. Por esta razón, no existe una relación etimológica o histórica directa entre ἀγγελία (angelía) y el origen griego del concepto de informa- ción. Pero sí se puede constatar una relación indirecta, dado que algunos momentos del concepto diario actual de información corresponden a los del concepto griego de mensaje. Estas correspondencias se pueden constatar en el caso de otros conceptos griegos como ser ἀπόστολος (apostolos) (el enviado), πέμπειν (enviar) y también διδάσκω (didasko) (enseñar), que este excurso va a tematizar. […]
Liddell y Scott dan como significado básico de términos con la raíz ἀγγελ- (angel-): proclamar (to proclaim).[83] Es es el caso, por ejemplo, de ἀγγελία (angelía) en sentido de proclamación en la Odisea (Odyssee 5, 150).
La palabra ἀγγελία (angelía) significa, como muestra Julius Schniewind,[84] la acción de comunicar, así como lo comunicado. Este doble significado se encuentra también en εὐαγγέλιον (euangelion),[85] que, como ἀγγελία (angelía), fue usado para noticias políticas y para eventos felices. La estructura: evento y, por tanto, novedad, y mensaje-mensajero-receptor, es la base del concepto griego de mensaje.
El término εὐαγγέλιον (euangelion) es en general un término técnico que designa mensaje de victoria, es decir, la comunicación de algo nuevo y gratificante. Debido a malas experiencias, indica Gerhard Friedrich, fue necesario “marcar una diferencia entre mensaje y evento que antes no se conocía.”[86] El uso del término en el campo religioso implicaba una equiparación de mensaje y realidad.[87] El trasmisor de un mensaje es en Homero (Ilias 5, 804) el ἄγγελος (angelos).
“Forma” e “informação”, portanto, não seriam conceitos surgidos para denotar uma comunicação de um modelo num ser modelado. Comunicação pressuporia outras propriedades, como por exemplo um diálogo em que forma e formador se afetam mutuamente. Ao contrário, o processo de formação seria unilateral: formas eternas perfeitas, imutáveis, e que mediante um processo de in-formação modelariam a matéria e os espíritos. Forma e informação, em certo sentido, são conceitos autoritários: as formas eternas seriam os modelos seguidos por todos os seres existentes. Aí há um autoritarismo também por retirar da matéria qualquer atividade criativa, relegando-a à passividade de ser in-formada externamente. A Doutrina das Formas, ou da “In-formação”, fornece explicações e justificações sobre a “ordem” do mundo.
Foi assim que a palavra forma foi “formatada” pelo pensamento ocidental prevalente na antiguidade. Parece que muito desse autoritarismo, senão ainda mais, ainda prevalece.
A partir disso teria sido amplamente usada no latim para explicar diversos conceitos.
A palavra Informação seria a realização máxima da chamada “Teoria das Formas” platônica. Tomando de emprestado a própria palavra idea mas usando um sentido mais contemporâneo e derivado, poderíamos até chamar a “Teoria das Formas” de “Doutrina” ou “Ideologia das Formas”, essa crença na existência desta categoria ontológica e metafísica de “forma”. Informação seria aquilo que nem é matéria, nem espírito – como comenta Capurro (2022) sobre esse debate.
A “Teoria” das “Formas” não é algo “testável” no sentido científico contemporâneo: não é possível fazer um experimento para detectar se existe um “plano” existencial habitado por formas eternas que “in-formariam” matéria e espírito, pela própria característica esotérica dessas “Formas”. Por isso que esta “teoria” é mais uma “ideologia”, a ser adotada ou rechaçada apenas com base na fé ou pragmatismo. Complicações abundam em todos os lados: os entes materiais não acessam as Formas, mas são acessados e modificados por elas, então como se dá esse ponto de contato entre uma forma e aquilo que é informado?
Indo mais além nos comentários sobre a Teoria/Ideologia das Formas, se alguma destas conjecturas for correta, seria também irônica, nos mostrando que o abstrato vem do concreto: as palavras do guardachuva “forma” não surgiram a partir desses conceitos abstratos, mas sim de usos concretos: “forma”, no seu entendimento mais básico de delineamento/aspecto/etc é uma abstração do que é mais comum e básico na percepção de todos os entes materiais observáveis: por mais díspares que sejam entre si, todos os “objetos” possuem uma “forma”, um “desenho”, um “aspecto”. Daí que os conceitos platônico-aristotélicos dão um passo de abstração a mais e acabam invertendo a relação: a aparência, o desenho, o aspecto seriam concretizações de entidades supra-materiais chamadas de “forma”. Ainda, a semelhança de muitos entes quando comparados entre si pode levar, dentro desse autoritarismo das formas, a uma hierarquia de categorias agrupando entes semelhantes.
O termo informação, então, originalmente, está relacionado à morfogênese, isto é, à explicação dos processos de formação, e não ao entendimento dito moderno mais próximo ao processo de comunicação, Peters (1988) págs. 10-11:
[…] informatio and information were used in a broader sense to account for the way that the universe […] of matter is given shape and identity by the forms or essences that imbue it. The intelligibility of material objects owes to the forms that in-form them, shaping them from within. This doctrine, which was later dubbed hylomorphism (from Aristotle’s hyle, or matter, and morphe, or form) […] Information was a term that took part in a vocabulary that described how matter was imbued with the intelligible order of forms. It belonged to a social world very different from our own, one still “enchanted” and governed by complex networks of similitudes, resemblances, and correspondences […]
[…] This work of informing has nothing to do with gaining information in today’s sense, but in receiving the envigorating sources of life. […] Perhaps the clearest example is Sir Thomas Browne’s description (1981/1646, 441) of the fabrication of Eve: “there was a seminality and contracted Adam in the rib, which by the information of a soul, was individuated into Eve.” […] Clearly this information has nothing to do with gaining facts, and everything to do with the embodiment of form. Perhaps we could best translate the early meaning of information with a term such as morphogenesis, taken broadly as the origin and evolution of forms.
O conceito de Forma assim foi estabelecido como um terceiro campo ontológico, ao lado de matéria e consciência/espírito, mas talvez num nível hierárquico superior65.
3.4 Historização
É a partir desta antiga consolidação de vários conceitos da filosofia grega clássica que informação passa a ter uma “vida” própria no pensamento ocidental.
3.4.1 Ignismo
Ignismo (de ignis, ou fogo em latim).
Ignismo: luz e informação (“fiat lux”).
Ignismo: informação vinda das formas, que figurativamente podem ter vindo do calor dos fogos dos fornos.
Antiguidade (ou pré-antiguidade?):
- O aparecimento das palavras que alimentarão o guardachuva da “forma”.
Período grego clássico:
Teoria/Ideologia Platônica das Ideias.
Teoria aristotélica da explicação, das causas, das formas e das cadeias formativas (transformações): transformações de forma de uma substância inalterável? Em Sklar (1993) Cap. 4 pág. 128.
Período latino, Capurro (2022) pág. 146:
Los análisis presentados […] sobre la proveniencia latina del concepto de información han mostrado que el uso de este concepto en el campo artificial, organológico, ontológico, epistemológico y pedagógico se puede comprender etimológica- e históricamente desde el origen griego, es decir desde los conceptos τύπος (typos), μορφή (morfé), εἶδος / ἰδέα (eidos / idea) interpretados por Platón y Aristóteles […]
Como resultado más importante sobre la evolución del concepto de información desde los inicios hasta el fin de la Edad Media hay que retener la influencia de la pregunta platónica sobre la ideas hasta alrededor del siglo XII mientras que a partir de entonces la concepción aristotélica del concepto de eidos condiciona fundamentalmente los significados ontológicos, epistemológicos y pedagógicos del concepto de información. Además, hay que destacar que en el uso y la interpretación del concepto de información por autores cristianos se manifiesta una síntesis de la filosofía griega con la fe cristiana.
Relação entre “informação” e “inteligência” no período: inteligência parece significar a apreensão correta das formas transcendentais. Neste mesmo arcabouço metafísico, poderia-se pensar nas “formas” elas próprias sendo “formadas” e tendo em si parte de uma inteligência externa, num outro nível, talvez demiúrgico – um demiurgo enquanto artesão/tecnologista de formas. O processo informacional imbui a matéria de inteligência66.
3.4.2 Iluminismo
Há uma série de mudanças que vão desaguar no período conhecido como “Iluminismo”. Aqui faremos um uso desse termo de uma maneira diferente: iluminismo, na perpectiva deste arremedo de história da informação, seria uma “iluminação” figurativamente produzida não por pelo dito “esclarecimento” de uma tal de “razão” e do chamado “conhecimento”, mas pelo grande aumento da quantidade de comunicação produzida e circulada. “Informação”, metaforicamente surgida da forja das formas e fôrmas, começa a ter um brilho incandescente, e como uma tocha ardendo na mente das pessoas, vai se espalhando de mente em mente.
A chegada da imprensa de tipos móveis possibilita a cópia acelerada de livros, aumentando não somente a difusão de textos clássicos como novos na filosofia e nas ciências. Incrementos na malha de transporte viabilizam não apenas a expansão de mercados e de colônias, como também a circulação desses livros e também de correspondências. Esta infraestrutura é fundamental para a ocorrência dos períodos eurocêntricos conhecidos como “Renascimento”, “Revolução Científica” e “Iluminismo”.
A afluência dos textos clássicos – antes de circulação muito mais restrita – terá forte influência no pensamento da época nesta região do mundo, inclusive sobre as “formas” e a “informação”. Como como indica Peters (1988)67:
Inicialmente há uma continuidade nas noções medievais de que informação é um processo de dar forma a uma entidade material, porém gradualmente ocorre um afastamento e um rechaço das concepções escolásticas.
Mas também há uma grande mudança nos sentidos de informação, associados aos novos tempos que repelem a noção de um universo ordenado por formas:
No lugar de “almas” e “espíritos”, entram as “mentes”, “egos” e “cogitos”.
No lugar de uma ordem social divinamente instituída, surge um “imenso mas frágil” Leviatã, “arbitrário e inescapável”.
No lugar de “percepção direta”, são colocadas as “percepções” e “impressões” com seus potenciais equívocos e incertezas.
Com isso, a noção de que o universo estaria ordenado perdeu crédito, e o processo de in-formação cambiou de locus, passando da formação da matéria para a da mente. “Formas” metafísicas a serem compreendidas perdem o lugar para o empirismo da evidência dos sentidos, e para a necessidade de separar as “informações” que chegam aos sentidos entre verdadeiras e falsas.
Tanto o empirismo quanto o racionalismo trariam um novo sistema de explicações para a “mecânica da sensação”, no qual os sentidos são in-formados pelo mundo, numa transição de formas intelectuais para informações sensíveis, e com a consequente dificuldade de relacionar as sensações que chegam à mente com o que realmente existe e ocorre no mundo, trazendo um grande problema de como extrair conhecimento científico objetivo de sensações subjetivas e pouco confiáveis, já sem o antigo amparo de “formas” universais que poderiam ser comprendidas pelo intelecto, mas apenas por “idéias” do tipo cartesiano, presentes na mente, compostas ou influenciadas pelo sensório, e que precisariam passar pelo julgamento da “lógica” e pela “razão”. Propostas para solucionar esse dilema consistiram em filtrar pacientemente o fluxo sensório, suspender ou negar a possibilidade de qualquer ordenamento, ou então considerar que a própria mente teria estruturas (ou formas) que poderiam ser usadas para a organização sensorial. Esta última concepção, kantiana, poderia ser chamada de “exformação” (“outformation”), em contraste com a “in-formação” vinda de fora68:
[…] the empiricist problematic was how the mind is informed by sensations of the world. At first informed meant shaped by; later it came to mean received reports from. As its site of action drifted from cosmos to consciousness, the term’s sense shifted from unities […] to units […] information came to refer to the fragmentary, fluctuating, haphazard stuff of sense. Information, like the early modern world view more generally, shifted from a divinely ordered cosmos to a system governed by the motion of corpuscles. Under the tutelage of empiricism, information gradually moved from structure to stuff, from form to substance, from intellectual order to sensory impulses.
Este câmbio começa como uma continuidade da escolástica na acepção epistemológica: in-formação dos sentidos.
Mas vai divergindo a partir do momento que se questiona a garantia de que aquilo que in-forma os sentidos tem relação com a “realidade”. O conhecimento das “formas” universais transcendentais parece ficar relegado a um segundo plano frente a esssa questão imediata: como obter conhecimento do mundo se não temos garantias naquilo que in-forma nossos sentidos? O processo de in-formação dos sentidos e da mente passou a ter mais relevância e ser mais questionado, a ponto da “informação” ganhar preponderância. Num prazo mais longo, essa mudança foi até além daquilo que era processo, e informação acabou gradualmente sendo substantivada, ou seja, ganhando substância, sendo algo em si própria: informação não somente mais como verbo, mas como coisa em si, mesmo que coisa imaterial.
“Forma” parece ter sido substantivada muito antes no passado, abstraindo contornos/desenhos/aparências. Informação, anteriormente um processo, foi sendo substantivada de acordo com o incremento da quantidade de mensagens69.
Neste momento, a relação entre informação e inteligência é dada pela capacidade de extrair conhecimento proveniente da atividade sensória, assim ser capaz de informar a partir da inteligência. Neste caso, vale a menção do processo informacional em Descartes no “campo ontológico”: dar instruções e ordens para que o corpo cumpra como uma máquina, Capurro (2022) pág. 160.
O termo informação parece se tornar mais relacional e menos engessado como processo unilateral de formação. A fonte “autoritativa” de “inteligência” deixa de ser um repositório metafísico de formas, se deslocando para formas fornecidas (in-formadas) pelos sentidos ou que existiriam a priori na mente. Esse termo também passa pouco a pouco a indicar um elemento ontológico atomizável, pouco a pouco se aproximando da noção de mercadoria.
O problema da aquisição da obtenção de conhecimento confiável a partir de um processo in-formacional/sensorial atinge, analogamente, aos emergentes Estados Nação dos séculos XVII a XXI.
Se os empiristas dão os primeiros passos para substantivar a informação, é com o surgimento da “Estadística”, mais conhecida como “Estatística”, que haverá o impulso adicional necessário para que a informação se torne uma entidade com dinâmica própria.
Enquanto o empirismo clássico preocupava-se com a informação na escala individual, alimentada por fluxos sensórios, em meados dos séculos dezoito e dezenove há um novo empirismo, em uma escala além da humana, ligada à necessidade de produção de informações para as burocracias dos emergentes e vastos Estados-Nação. Numa analogia antropomórfica, “o Estado se torna um conhecedor, a burocracia são seus sentidos, e a estatística é a sua informação”70:
[…] Any large-scale polity requires some kind of monitoring. […] But the scale and intensity of bureaucratic growth over the last two hundred years is quite unprecedented in human history. […] But how did the term migrate from empiricism to bureaucracy?
[…] In the eighteenth century, statistics […] was the name for the comparative […] study of states. […] The scale of the modern state presents its managers and citizens with a problem[…] they […] need facts. And so, statistics arose as the study of something too large to be perceptible […] Statistics, like newspapers, novels, and encyclopedias, have the aim of representing entities too large for […] individual’s senses[…] into something factual and manageable. […]
[…] Statistics offer a kind of gnosis, a mystic transcendence of individuality, a tasting of the forbidden fruit of knowledge. […] This new kind of knowledge […] is […] information. Information is knowledge with the human body taken out of it. […] Implicit in statistics is a kind of knower not subject to mortal limits. […] Statistical data (information) are of course gathered by mortals, but the pooling and analysis of them creates an implied-I that is disembodied and all-seeing. […] Computers do […] what the state already long was doing: they make vast invisible aggregates intelligible and manipulable. […] The computer existed as a practice before it existed as a machine (Mumford 1970, 273-5).
The computer is a child of the state. […] In the eighteenth century information might be used to mean “other men’s experience” (Littlebury 1737, vii), but now it refers to the possible experience of no body […] part of the explicit alienation of human scales and proportions and of the disappearance of death as a form of meaningful closure (Benjamin, 1968/1936). […] Stalin recognized this in his chillingly telling comment that one death is a tragedy, a million deaths a statistic. Information is a form of knowledge that rearranges the significance of everyday realities, sapping them of substance. As Norbert Wiener recognized (1948, 27), “the first industrial revolution, the revolution of the ’dark satanic mills,’ was the devaluation of the human arm by the competition of machinery…. The [second] industrial revolution is similarly bound to devalue the human brain, at least in its simpler and more routine […]
[…]
In sum, empiricism took the forms out of information, leaving it the chaotic “stuff’ of sensory experience. But it remained anchored in the human mind and senses. With state empiricism – statistics – the old scale of the human mind and body is shattered. Information accumulates at rates and in quantities that can be”processed” by no single person […] it becomes objectified, exterior, and alien to human senses. Information ironically comes to be synonymous with noise – that which cannot be processed at present In the context of the state information becomes a thing, a noun, a reified stuff separable from processes of informing.
Aqui, “inteligência” passa a designar o resultado da informação processada pela computação burocrática, pronta para ser “consumida” por gestores. É neste mesmo período que “atividades de inteligência” entendidas enquanto “agências de inteligência” e “serviços secretos” passam a ganhar mais sistemática e estrutura institucional, seja na diplomacia ou no meio militar. Suspeito que seja neste momento em que o termo “inteligência” passa a designar também o resultado da obtenção e processamento de “informações” pela espionagem – o que representa uma grande mudança de significado em relação à era anterior, quando inteligência estava mais relacionada com a compreensão das Formas transcendentais, inteligência esta que seria in-formada na matéria inerte através dos processos morfogenéticos. No tempo iluminista, informação já passa a ser uma entidade própria, pronta para a próxima etapa de desacoplamento entre informação e significado, quando informação passa a ser entendida de modo similar ao conceito de mercadoria: algo que se produz, se troca (transmite) etc.
3.4.3 Explodismo
Chega então o Explodismo, Infoluminismo ou Hiperluminismo: o próximo período esquemático desta breve história é o Explodismo, ou Hiperluminismo, uma intensificação da Iluminação da era anterior, chegando a um ponto excessivo e ofuscante da explosão informacional, tal como na fissão nuclear.
“Explodismo”, neologismo aqui cunhado – do latim explōdō71, nos sentidos de “ejetar”, “expelir”, bater palmas para retirar alguém do palco. Uma ejeção de informação, retirando a humanidade do palco.
Período no qual é concluída a desconexão e o desligamento entre a “informação” e qualquer significado, numa fratura conceitualmente problemática.
A informatização expandiu a escala de mercados e se imbricou com as cada vez mais vastas redes de transporte, associada também à padronização do tempo72. A telegrafia, e posteriormente o rádio e a televisão, assim como a produção em larga escala, reduzem o custo da cópia de mensagens, que se multiplam para tudo quanto é lado.
“Informação” passa a ser um termo apropriadamente utilizado para descrever toda essa massa de conteúdo comunicacional, como uma abstração útil e tão poderosa que passou a ser considerada como uma coisa com existência própria e separada daquilo que ela in-forma, e sobre o quê ela in-forma, sendo recentemente alçada a uma categoria ontológica.
Momento epistemológico ganha primeiro plano no conceito de informação na chamada modernidade, Capurro (2022) pág. 174. Diria que ganha cada vez mais praticidade.
A informação descorporificada também pode ser associada a um autoritarismo que relega a matéria e os seres pensantes a uma categoria ontológica inferior.
Inteligência agora passa a ser associada a valores mais facilmente atribuíveis aos assim chamados computadores digitais e seu alogoritmos (ou algoz-itmos): identificação e classificação de padrões, indexação e busca, compressão.
Aparatos de comunicação mais rápidos, mais estáveis e que podem transmitir mais conteúdo permitem que mais informações sejam obtidas e acumuladas, assim como mais decisões possam ser tomadas e efetivadas num menor intervalo de tempo. Chegar primeiro, saber primeiro, vender primeiro, decidir primeiro, atirar primeiro: na dinâmica competitiva entre Estados e empresas fica cada vez mais importante ter à disposição dispositivos informacionais mais eficientes na velocidade e no volume. A “fidelidade” do aparato também é uma preocupação, sendo nesse caso a qualidade de um aparelho de garantir que a mensagem recebida é representativa, para não dizer idêntica, à mensagem enviada.
Esses problemas passam a ser o cerne da nascente engenhanaria de telecomunicações. Os artigos mais célebras são Nyquist (1924) e Hartley (1928), culminando com um dos trabalhos mais influentes de todo o século XX e que estabelece uma teoria matemática para um entendimento restrito do que seria “informação”: 4. Neles, a questão da “informação” é reduzida apenas aos problemas da velocidade, do volume e da fidelidade na transmissão e recepção de mensagens. Culminando o processo aprofunda no Iluminismo, a engenharia de telecomunicações retira da sua definição de “Informação” qualquer significado que uma mensagem possa ter para um intérprete humano: o que interessa para essa engenharia é apenas o problema de como ter aparatos de comunicação mais eficientes e fidedignos.
Ao invés de utilizarem um conceito mais específico para tratar desses problemas de transmissão e recepção – como por exemplo o termo “sinais” –, Shannon e seus dois principais predecessores insistem em usar o termo “Informação”. Parte disso pode ser explicado como uma confusão terminológica do começo de um novo campo de pesquisa, mas creio que em parte também tenha sido mais um sinal da continuidade do processo de abstrair mais e mais as relações de afetação, influência, concepção e entendimento entre seres na longa história da informação no chamado Ocidente.
Essa escolha terminológica foi mais do que um sequestro do conceito de “informação”: ela faz parte do próximo passo de separar Informação como uma categoria própria, independente de matéria, de inteligência e também de significados. Informação passa a se tornar uma categoria fundamental, primitiva, e que consequentemente não precisaria mais de uma definição ou explição sobre sua existência, sobre o que ela é. “Informação é informação”, e o trabalho da engenharia de comunicações é melhorar sua transmissão, recepção e armazenamento.
Livre das contingências de qualquer significado, este novo conceito de Informação poderia então ser usado como representação de qualquer sentido, de qualquer conhecimento, bastando para isso codificá-lo numa mensagem. O aparato técnico de comunicação acoplado com os processos de controle, decisão e espoliação galvanizou o novo entendimento sobre Informação.
Tal manobra pragmática e semântica mudou profundamente a própria maneira de encarar o conhecimento, enfeitiçando toda a sociedade com o espectro desta Informação sem fronteiras73:
The catalyst for the contemporary discourse on information is undoubtedly the diffusion of “information theory” and its terms through the American academy after World War Two. Information theory developed as an outcome of the […] “information practice” of state bureaucracy. […] It gave scientists a fascinating account of information in terms of the old thermodynamic favorite, entropy, gave AT&T technical means for “shaving” frequencies and thus economizing by getting more calls on one line, and gave American culture a vocabulary well suited to its new status as world leader in military machinery. It was explicitly a theory of “signals” and not of “significance.” […] Indeed, the theory may have seemed so exciting because it showed how to make something already familiar through the bureaucratic institutions of everyday life into a lofty concept of science and technology. It offered an indirect way to transfigure bureaucracy, to give it a halo.
One consequence of the diffusion of information-theoretic ideas was the rewriting of the great chain of being in informational terms. On the smallest level, where the secrets of life are “coded, stored, and transmitted” we find Watson and Crick, the discoverers of the double helix, writing of DNA as a code containing “genetical information.” Neural synapses are switchboards and nerves are telephone lines […] and the messenger RNA proteins are dubbed “informosomes.” Moving up to physiology, one hears of hormones and enzymes as messages. The human brain is an “information-processer.” […] Finally, a few radio receivers vigilantly await some “information” from the outermost reaches of the universe, in the quest for extraterrestrial intelligence.
[…] Some have gone so far (Beniger 1986), to suggest that all intellectual inquiry into human affairs should redescribe itself in terms of a new trinity of concepts: information, communication, and control. Such schemes are the latest appearance of the dream of unified science that runs from Descartes to Carnap; information has been a stimulant to such dreams, just as geometry, evolution, thermodynamics, statistics, and mathematical physics have been in earlier days.
A exclusão o sentido do termo Informação na teoria the Shannon-Weaver, para que ela se tornasse a entidade universal de manipulação de mensagens, criou uma espécie de “armadilha semântica74. Esta seria seria mais uma teoria de”sinais” ou uma “teoria matemática de comunicação de dados”75 do que uma teoria dos “significantes”76, muito menos do que uma teoria da “Informação”.
Paradoxalmente, tanto em 4 quanto posteriormente em Shannon e Weaver (1963), a definição de “Informação” é fraca e ambígua o suficiente para indicar – ou confundir – o conhecimento de uma mensagem recebida ou uma medida da quantidade efetiva de seleções de símbolos necessários para compor uma mensagem.
Ainda hoje tem sido muito difícil tentar compatibilizar essa definição estreita de Informação com muitos outros entendimentos e teorias da informação, especialmente aquelas onde o significado e outras dimensões da linguagem não são excluídos.
Na impossibilidade de uma Teoria Universal da Informação77, há uma toda uma galáxia de teorias e definições sobre a informação. A maioria delas é muito dependente dos nichos e contextos específicos onde ela é usada. A informação de Shannon-Weaver acabou tendo preponderância e influência nos usos mais comuns e coloquiais, tanto enquanto notícia, anúncio, atualização sobre fatos quanto na disponibilidade, processamento e comunicação em geral.
- Hiperhistória:
“Hyperhistory, the Emergence of the Mass, and the Design of Infraethics”, Floridi (2016a), Floridi (2016b).
“The Fourth Revolution: How the infosphere is reshaping human reality”,
Na Hiperhistória, a sociedade e seus indivíduos são ainda mais formados pela informação, Bawden e Robinson (2021) pág. 1:
as society fully experiences Floridi’s Fourth Revolution, and moves into hyper-history (with society dependent on, and defined by, information and communication technologies) and the infosphere (an information environment distinguished by a seamless blend of online and offline information activity), individuals and societies are dependent on and formed by information in an unprecedented way, and information overload needs to be taken more seriously than ever.
“Floridi/Flusser: Parallel Lives in Hyper/Posthistory”, Galanos (2016).
- Crítica à informação em Walter Benjamin, Benjamin (2007) Cap. “The Storyteller”:
Ao que me consta, talvez seja a primeira teoria crítica do conceito “moderno” de informação.
A arte da contação de história estaria chegando ao fim.
Com a chegada da imprensa/impressão, a contação de história (oral) passa a ser gradualmente suplantada pela novela, que teve uma lenta maturação desde a antiguidade.
No aprofundamento desse processo, a informação passa a substituir a inteligência.
Informação enquanto uma atualização sobre fatos, e ligada aos conceitos de notícia, anúncio, divulgação.
Heródoto, Marco Polo etc: viajantes e contadores.
Cartas, imprensa, telégrafos, rádio: a atualização dos fatos chega antes das pessoas.
Essa nova informação perde o valor assim que chega, enquanto na história do viajante há uma riqueza de maior duração.
O valor da história e da informação, Benjamin (2007) pág.90:
The value of information does not survive the moment in which it was new. It lives only at that moment; it has to surrender to it completely and explain itself to it without losing any time. A story is different. It does not expend itself. It preserves and concentrates its strength and is capable of releasing it even after a long time.
Fazendo um paralelo rápido, Gramsci talvez tivesse a mesma concepção sobre a informação noticiosa, Gramsci (1999) - Introdução:
Convidado por um editor amigo, antes da prisão, para reunir em coletânea alguns desses artigos, Gramsci se recusou a fazê-lo, alegando que, tendo sido escritos “para o dia-a-dia”, tais artigos eram destinados a morrer “tão logo se encerrasse o dia”.
Outros pontos de Benjamin (2007) fichados em Rhatto (2024), na Seção etiquetada como “storyteller”.
3.5 Classificação
Por debaixo dos usos atuais da palavra ocidental “Informação”, tanto coloquiais quanto técnicos, há uma grande divergência terminológica e conceitual.
3.5.1 Polimorfia
Na sua trajetória histórica, a palavra informação foi usada para traduzir diversos conceitos ligados à ação de um agente dando forma a algo passivo/latente, com diversas intenções e conotações. Se pensarmos então em dar forma à própria palavra que trata sobre o que dá e o que recebe forma, constatamos que a palavra informação é antes de tudo polimorfa78:
Information is notoriously a polymorphic phenomenon and a polysemantic concept so, as an explicandum, it can be associated with several explanations, depending on the level of abstraction adopted and the cluster of requirements and desiderata orientating a theory. […] schematic simplifications and interpretative decisions will be inevitable.
Tanto forma quanto informação são polissêmicas e contém uma grande quantidade de significados.
Informação, a palavra que exprime formações intensas, trata de “formas”, “configurações”, em todas as suas potencialidades e atualidades. Todas as morfias são por ele contemplados. Sendo então um termo polimórfico pelo que designa.
O termo informação também é polimórfico por si mesmo, porque ele é informado externamente, e não admite um único significado. Seus sentidos convergem e divergem. Existem muitas formas de designar formações intensas, e existem significações que não tratam da “formação intensa”, mas de outras interpretações.
Não é possível unificar todos os conceitos de informação em um único, nem mesmo naqueles que sigam uma fórmula deleuze-guatarriana do tipo “… E … E … E … E …” (exemplo: “… informação é isso E aquilo E aquilo também…), pois mesmo nesse caso a fórmula não consegue conter a sua própria negação.
Importante não deixar que o conceito de informação tome conta de toda a filosofia.
3.5.2 Polivalência
Há um paradoxo, ou ironia, dos múltiplos conceitos de informação, que não informam a respeito de um único conceito, um único significado. Talvez mais do que qualquer outro conceito, exceto provavelmente pelo de democracia79:
Chalmers (1999, pp. 104-105) […]
[…] For instance, I think it will be agreed that the Newtonian concept of mass has a more precise meaning than the concept of democracy, say. It is plausible to suggest that the reason for the relatively precise meaning of the former stems from the fact that the concept plays a specific, well-defined role in a precise, closely-knit theory, Newtonian mechanics. By contrast, the social theories in which the concept democracy occurs are vague and multifarious. […]
Se um conceito não converge num único significado, pode haver controvérsia, disputa histórica ou a divergência do termo é explicada pela sua polivalência e aplicabilidade em diversos campos e situações. Deixaremos mais para adiante as controvérsias e concepções antagônica em torno do termo democracia, e por agora trataremos das existentes no termo informação.
A situação recente do conceito de informação é tão confusa que não há, até onde encontrei, nem ao menos uma classificação convergente de todas as formulações. Indico algumas delas na seção 3.9.4.
3.5.3 Transmorfia
Em toda sua história no ocidente, o conceito de informação também tem um quê de transmorfo que parece perspassasr todas essas classificações.
Informação sai do “formador” (deixando de ser transcendentes) sai dos corpos (deixando de ser sensível) e perde os sentidos (deixando de significar). Desencarnada, desacoplada e recaracterizada. Deixa de ser um processo ligando formas metafísicas do além com a matéria do mundo para ser considerada o próprio substrato infraestrutural. As formas deixam de ser platônicas sem nunca terem deixado de sê-las. Perdendo a transcendência, ela ganha transcendência. Deixando de fazer parte do sensível, ela passa a ser percebida em todo lugar. Deixando de significar, ela passa a fazer sentido em si própria. Informação invariavelmente continua sendo mística e mistificadora.
Este acaba sendo retorno à Platão por outros meios: informação como e sobre aquilo que não é possível acessar diretamente pela experiência sensível. Parafraseando Whitehead, seria como dizer que a filosofia dita Ocidental da informação seria genericamente uma série de notas marginais à obra de Platão80.
Parece haver um tendencial aumento de abstração simultaneamente a uma compressão de significados na trajetória da palavra informação:
Em typto, da ação de martelar etc para a coisa martelada em typo.
E em morphé, eidos e idea, o agrupamento de seres a partir de sua aparência, extraindo um “comum” como sendo uma “imagem” original a partir da qual teriam sido moldados, fabricados, confeccionados, derivados etc.
Um conceito que é sempre alienado de seu processo e que parece ser o que mais se encaixa para explicar os processos de alienação. Informação aliena a tudo e a si própria.
3.6 Criticalização
3.6.1 Invariâncias
Mas apesar dos muitos sentidos, é possível esboçar um significado comum, uma essência ancestral mas talvez não essencial da palavra informação.
Informatio, informo: acepções ancestrais latina para os processos de formação, mas não qualquer processo. O prefixo in as distingue da palavra forma, intensificando-as. Informação seria um processo de formação intensa, particularmente de um ator poderoso e ativo – o demiurgo, o homem masculino através do seu sêmen, um professor – sobre uma porção de matéria ou um ente mais passivo, que receberia os “princípios ativos” necessários para adquirir a forma almejada pelo “informador”. Uma analogia contemporânea, anacrônica porém direta, seria associar essa passagem com a transmissão do “código”, ou “software”, necessário para que corpos-mentes se trasformem e funcionem de uma dada maneira81. In- denotando não somente intensidade como também em, continência. Analogamente na culinária, quando dizemos “enformar”, colocar na fôrma. Infornação.
Intensidade e continência na formação dos corpos, na corporificação: informação trata então tando da formação dos corpos (no caso de um processo de informar a matéria, dando uma determinada forma), assim como da atualização dos mesmos (no caso de uma informação que chega e opera uma mudança na situação de um corpo). Também re-forma e de-formação dos corpos.
Talvez, por “formação intensa”, podemos entender processos de transformação como o da terra em uma fruta, da comida em gente etc. Não seriam quaisquer processos transformativos, mas aqueles que são muito intensos. Talvez também não se trate de processos mais deformativos, como transformar um animal em outro. É portanto um conceito antropomórfico, tal como typo vindo de typto indicando um processo artesanal de dar forma a um corpo, martelando etc a partir de um molde, de um modelo.
Posteriormente o ser ativo no processo vai cambiando de posição – por exemplo passa para a mente de uma pessoa que se informa, memoriza etc. Até o momento em que a informação é desacoplada de qualquer ente ativo ou passivo e passa a ser uma entidade paradoxalmente substantivada e ativa por conta própria, vide Peters (1988). Atividade e passividade se transformam em emissão e recepção.
Contudo, a acepção de controle da formação da mente e da matéria sempre esteve embutida na palavra informação. Mesmo com todas as transformações – ou poderíamos dizer informações – da palavra informação, este conceito elementar permanece inalterado. Tanto nas a acepções ditas quantitativas – como a teoria de Shannon-Weaver – quanto nas chamadas qualitativas – como as teorias semânticas.
Nas quantitativas, há intenção de garantir transmissão e recepção de instruções e demais conteúdos.
Nas qualitativas, garantir transmissão de mensagens que tenham sentido, livres de ambiguidades etc.
Ao processo informacional da matéria e do corpo (o chamado “campo ontológico” de Capurro (2022)), seguiu-se a questão de como as formas são percebidas e compreendidas pelo ser humano (que Capurro (2022) chama de “campo epistemológico”), especialmente para que este compreenda as instruções para viver a vida adequadamente – como por exemplo a correta aplicação das leis transmitidas por um demiurgo.
Assim, apesar de Capurro (2022)82 afirmar que não se pode considerar um modelo único que abarque toda a complexidade do conceito de informação, podemos ao menos considerar uma mistura básica oriunda do platonismo e do aristotelismo relativa a um intenso processo de formação das coisas que transmitiria uma essência modelar, um molde da coisa, para a matéria ou para a mente humana; processo este realizado ativamente por um ser dotado da capacidade de informar. Tal intensidade de formação pode ser compreendido se considerarmos o que é necessário para transformar seres: há uma intensidade necessária para transformar uma árvore em lenha, e uma intensidade muito maior para transformar a mesma árvore em ouro: cada processo requer informações distintas tanto em intensidade quanto em qualidade.
- Informação e controle, invariante histórica:
Informação, primeiro conceituada como um ato (divino) de dar forma com intensidade.
Informação passa para o verbo, verbo divino (criação, leis) ou humano, dar forma pela educação e moralização.
Com a revolução trazida pela imprensa, também surge a ênfase a uma informação escrita, que seria mais confiável que a falada.
Já a dita teoria matemática da informação é impulsionada pela engenharia de telecomunicações, especialmente a eletroeletrônica, afim de garantir e otimizar a comunicação por esse meio. A ponto do conceito de informação desta teoria ganhar ascendência sobre outras. A informação circulante por via eletroeletrônica ganha mais importância do que a escrita.
As mudanças, ou acréscimos, de significado da palavra informação estão associadas aos seus usos e substratos tecnológicos.
Subjaz em todas essas acepções a intenção de produzir efeitos através do processo de informação.
Efetividade: produção de efeitos, de câmbios de forma.
Informação: relação entre forma e função (mas quem diz qual é a “função” de algo?).
Contudo isto não exclui conceitos de informação que contemplem por exemplo informações “ambientais”, sem intencionalidade. Porém mesmo estas estão ligadas à noção de controle: informações ambientais usadas para regular/balizar atuações efetivas. Informações territoriais, populacionais e econômicas para gerir empreendimentos como um Estado Nação, uma empresa, uma corporação. Informação sobre o Outro para fomentar ou empreender a guerra.
Não nos esqueçamos também da intensidade implícita na palavra informação, pelo seu prefixo in-. Curiosamente, informação é conceito que vai se intensificando. Desde a palavra fōrma que significados vão se agregando, e a partir de infōrmātio e infōrmo há um acréscimo de conceitos, e aos poucos informação vai tomando conta da filosofia e da epistemologia.
Nesta longa jornada, Informação e Inteligência sempre estiveram próximas. Às vezes ambas são usadas como sinônimo para coleta de fatos a serem compilados e produzirem estudos, análises e relatórios amparando decisões executivas.
Mas hoje, no geral, Informação e Inteligência estão bem separadas. Informação e significado/sentido também. Informação se torna apenas um invólucro esvaziado, uma embalagem que é transmitida de um lugar com outro com a maior “fidelidade” possível, numa operação pragmática e alienadora.
Há uma cisão histórica entre informação e inteligência. Dada a quantidade enorme de informação disponível, inteligência passa a ser a capacidade de processar, filtrar, indexar, cruzar etc informações, para elaborar um produto mais “acabado” com o nome de “conhecimento”. Informações em princípio teriam um status menor do que inteligência e conhecimento.
3.6.2 Engolfamento
A seguir, a Teoria da Comunicação Hackeada.
Neste cenário, processar informações em quantidades e taxas cada vez maiores e extraindo um “conhecimento” que permita decisões úteis, atitudes efetivas e ganhos garantidos passa a ser crucial, dado o mundo competitivo e antagonista do universo neoliberal de indivíduos, empresas e Estados Nação.
Analogamente, passa a ser estratégico proteger informações valiosas para que não estejam disponíveis para a concorrência processar e extrair resultados.
Indo um pouco mais além, pode ser também benéfico para muitos atores desta competição inundar o mundo com informações desconexas, desencontradas, de baixa factualidade, desimportantes etc para confundir os oponentes, especialmente quanto estes são populações inteiras.
A Informação enquanto categoria é também uma categoria da disputa, do conflito e da guerra, como que a versão infraestrutural do famoso mote “conhecimento é poder”. Só que informação não necessariamente é poder. Pode ser também confusão, desencontro e derrota.
Num mundo assim, a Informação, em estado bruto, seria algo não exatamente parecido com a analogia frequentemente usada de minerais a serem processos para extração de metais e terras raras, mas sim como lixo a ser ingerido e processado para com alguma sorte obter algum conhecimento precioso.
Informação como ofuscamento:
Excesso de informação como medida de propagar a desinformação.
Excesso de luz é um tipo de escuridão, já que ofusca.
O excesso de informação no conto “The Sixth Sally, or How Trurl and Klapaucius Created a Demon of the Second Kind to Defeat the Pirate Pugg”,
O período iniciado pelo dito “Iluminismo”, o período “das Luzes”, se encerrou. Estamos agora no período do ofuscamento pelo excesso das luzes, do “Hiperluminismo”, no “Explodismo” do excesso informacional. Informação entupindo tudo.
Tamanha quantidade de informação que não sabemos mais o que fazer com ela. Como uma montanha de lixo nos soterrando.
Lixo/ruído. Informações tendendo a um ruído de segundo nível: transmissão perfeita de mensagens-lixo.
É o excesso de informação, transformada em lixo, que impulsiona os métodos estatísticos conhecidos como “inteligência artificial”.
Onde “lixo” pode ser aquilo que:
Que ainda não se sabe o que fazer, aquilo que se descarta sem extrair valor (descarte, refugo) (para fins provisionais).
Mas que alguém pode “minerar” para extrair valor.
Informação é poluição.
Poluição conceitual do próprio conceito de informação.
Assim, é possível entender que duas palavras que anteriormente eram praticamente idênticas – informação e inteligência – vão divergindo cada vez mais.
“Inteligência” fica cada vez mais associada à estratégia, ao sigilo, ao segredo – domínio dos serviços secretos – assim como também pela capacidade de processar o lixo informacional para obter um produto que seria de “alto nível” e chamado de “conhecimento”, enquanto que “informação” cada vez mais está ligada ao rejeito comunicacional que pode ser de alguma maneira reaproveitado. Inteligência se aproxima da estratégia, e informação do lixo.
Haja vista que aquilo que é chamado de “Inteligência Artificial” nada mais é do que um processo de extração de valor em cima da classificação de lixo informacional, conclusão que chego tanto pelo contato com o trabalho de doutoramento (em andamento?) da minha amiga Nahema quanto pela minha própria experienciação do mundo e constatação de que informação cada vez mais é lixo.
A “inteligência” então é uma palavra que esta cada vez mais se distanciando de outras como conhecimento, sabedoria, sagacidade, argúcia etc – nenhuma dessas palavras é tem o mesmo sentido que “inteligência” vem ganhando, menos ainda que “informação”.
Ao mesmo tempo, “inteligência” se contrapõe e se alimenta do que hoje é “informação”, algo ilustrado por exemplo pela prática chamada de “Open Source Intelligence” / “Inteligência de Fonte Aberta” (OSINT).
O artíficio da “inteligência” “artificial” é a utilização de “algoritmos” para extração de “inteligência” a partir do “lixo informacional”.
Informação e inovação:
Texto “Em busca do inapropriável”, Saravá (2008): o ciclo de expropriação de inovações no capitalismo.
Com as “Inteligências Artificiais”, esse processo de extração pode se dar em alta velocidade, assimilando qualquer conteúdo disponível.
Resumidamente, o conceito de “informação” tem se afastado do conceito de “inteligência” e se aproximado do conceito de “lixo”.
A informação, por um lado, se tornou ferramenta de controle usada descontroladamente, a ponto de gerar um excesso de sinais emitidos na espectativa de “fisgar” algum sistema de interpretação/processamento – como por exemplo uma pessoa afetada pela propaganda –, numa poluição cujo efeito global é a transformaçã da informação em lixo. Por outro, a informação se tornou aquilo que pode ser captado como rastro, efeito colateral da atividade humana – sensores, equipamentos de monitoria, registros de interação etc – que também constitui uma espécie de poluição residual da atividade humana.
A inteligência, por sua vez, passou a ser a atividade de processamento desse lixo para ordená-lo e utilizá-lo como base para gerar mais informações emitidas, multiplicando ainda mais a poluição informacional.
Assim, informação e inteligência descolaram-se nos últimos cem anos. Inteligência está passando a se tornar um termo mais e mais específico, mais e mais afunilado e que prioriza mecanismos de extração e ordenação informacional em detrimento da capacidade de tomar decisões (juízo).
O conceito de informação também retém seu próprio paradoxo: por um lado é controle, é informação útil, bem formado, com significado etc; por outro lado é poluição ambiental, puro lixo, que dificulta a obtenção da própria inteligência – há muita “informação” para ser filtrada e processada, necessitando de mais e mais sistemas de “inteligência artificial” para recolhê-la – ou “minerar”, colocando-a em “lagos” (data lakes) –, ordená-la, filtrá-la e processá-la. Para então posteriormente emitir mais informação, poluindo mais o ambiente e requerendo mais e mais sistemas para processamento e ordenação.
O escamoteamento atual desse problema está em deixar de usar a palavra “informação” para todo esse lixo, chamando-o ao invés disso de “dados”, enquanto que informação seria a porção já processada, ordenada e com significado, enquanto que a inteligência seria a inferência realizada a partir da informação – como tendências, projeções, criação de cenários etc. Mesmo adotando essa nomenclatura, uma porção enorme de dados processados e embalados como “informações” – anúncios, notícias não solicitadas etc – tem constituído uma enorme parcela da “comunicação”.
Informação: o Lixo da Indigência Artificial.
Informação é a Poluição da Indigência Artificial.
Se a dimensão adversarial no jogo da informação é intensificada, a situação se torna ainda mais extrema.
O paradoxo da (des)informação:
O que forma também pode deformar. O dano provocado pelo uso adversarial da informação não é apenas representado pela palavra “desinformar”, que significaria originalmente uma retirada de informação, mas também (complementarmente) uma deformação, composta pela remodelagem de um sistema de uma forma anterior para uma forma posterior.
As formas da desinformação: fatos e notícias falsas (“fake news”), dados forjados, propaganda e marketing, conteúdo não solicitado (“spam”), roubo de pauta e de atenção, manipulação e guerra psicológica, “deep fakes”, ataques de negação de serviço (DoS); campanhas de desinformação do tipo “smear campaigns”; etc.
Não é só o “fato falso” que polui, como também a notícia e o assunto que desviam a atenção das pautas mais urgentes.
Informação é lixo quando você não precisa dela. Quando ela invade o campo cognitivo pela notícia que fisga, pela propaganda imposta. Alguém que aprendeu a ler visualmente dificilmente consegue ver um texto e escolher interpretá-lo. Ou alguém que escute uma conversa em seu próprio idioma sem discernir o que é dito.
A “esfera”, “camada” ou “ambiente” informacional tende a um fechamento nele mesmo. Foi na hiper financeirização descolada de uma “realidade” “fincada no chão” que este fenômeno se tornou proeminente, culminando com a chamada negociação de alta frequência (HFT - High Frequency Trading). Agora todas as dimensões existenciais padecem do mesmo comportamento: sistemas de informação numa corrida armamentista em rápida escalada, se autodigerindo e se auto-excretando indefinidamente, gerando uma poluição de dados que não tem mais a ver com ganhar conhecimento necessários para enfrentar os grandes problemas do mundo. Muito pelo contrário: aumentam os problemas do mundo, não só por desviarem a atenção como também pelo seu próprio impacto ambiental: informação custa recursos do planeta para serem produzidas, transferidas e armazenadas.
Informação, desatenção, dispersão, esgotamento.
Ansiedade, mal dos tempos e intimamente ligada ao conceito de “informação”: querer se informar e in-formar o mundo, o tempo todo.
Assalto à atenção ininterrupto.
Informação e expropriação do trabalho.
Comunicação efetiva também requer proteções contra esses atques e modos de agir num mundo poluído.
A poluição é tendencial em sistemas de “informação” operando nesse tipo de regime.
“Produção” de dados no mundo, tendência.
Quem “informa” o mundo hoje, lhe dando o formato principal, é um sistema de extração, expoliação e direcionamento do comportamento humano83. É também o que Enzensberger (2003) chamou de “indústria da consciência”, assim como do comando e do controle logístico no animal-máquina, humano-máquina e mundo-máquina.
3.6.3 Sobrecarga
“Information Overload: An Overview”, Bawden e Robinson (2021).
“The dark side of information: overload, anxiety and other paradoxes and pathologies”, Bawden e Robinson (2008): “loss of identity and authority, emphasis on micro-chunking and shallow novelty, and the impermanence of information” problems and of improvements to the situation.
Pessoas vencidas pela informação: você não vencerá a quantidade enorme de informação, a não ser que paradoxalmente passe a ignorá-la.
O filme “Johnny Mnemonic” (1995):
A alegoria mnemotécnica do filme “Johnny Mnemonic” (1995), cuja cartela de abertura é a seguinte:
NEW CENTURY. AGE OF TERMINAL CAPITALISM.
THE ARMORED TOWERS OF MULTINATIONAL CORPORATIONS RISE ABOVE THE RUINS OF DEMOCRACIES THAT GAVE THEM BIRTH.
HACKERS, DATA-PIRATES, LOTEK MEDIA-REBELS ARE THE ENEMY, BORROWING LIKE RATS IN THE WALLS OF CYBERSPACE.
A NEW PLAGUE CONVULSES THE CITY: NERVE ATTENUATION SYNDROME, INCURABLE, FATAL, EPIDEMIC, BRINGING FEAR AND MISERY AS OLD AS THE SPECIES ITSELF.
BUT THE MOST PRECIOUS DATA IS SOMETIMES ENTRUSTED TO ELITE PRIVATE AGENTS, WETWIRED TO FUNCTION AS HUMAN DATA BANKS.
MNEMONIC COURRIERS.
A causa da sobrecarga informacional – “Nerve Attenuation Syndrome” (NAS) – no filme “Johnny Mnemonic” (1995), aproximadamente em 00:48:00 (versão japonesa) (spoiler adiante):
So what does cause it?
The world causes it.
This causes it! [pointing to electronic devices]
Information overload, all the electronics… poisoning the airwaves!
Technological fucking civilization!
But we still have all this shit, because we can’t live without it.
Spoiler: Johnny está sobrecarregado informacionalmente… e o conteúdo desta sobrecarga é… a própria informação da cura da doença causada pela sobrecarga!
O filme mostra um mundo não somente sobrecarregado de informação como sobrecarregado de tecnologia, ambas basicamente na forma de lixo.
3.6.4 Infoguerra
- Infoguerra, bomba informacional e “media fallout”:
Baudrillard (1994), especialmente o Cap. “The implosion of meaning in the media”.
“Information Bomb”, (virilio2006?), incluindo:
- Menção a um dizer (apócrifo?) de Einstein sobre as três bombas: atômica, informacional e demográfica, (virilio2006?) págs. 112, 135.
“Understanding Media: The Extensions of Man”, McLuhan e Lapham (1994) pág. 305.
“2040: An Information Odyssey”, Matejic (2020).
3.6.5 Infoluição
- Infoluição difusa:
Informação é a componente poluidora até do espectro eletromagnético (e que serve de matéria prima para a chamada SIGINT - Inteligência de Sinais).
Clausura e fechamento: nem o céu será visível, poluição no visível e no invisível (5G)… sistemas nervosos inchados e fechados para si, isolamento e bolha. Inspirado por esta matéria:
“Las estrellas serían invisibles en 20 años por causa de la contaminación lumínica” https://actualidad-rt.com/actualidad/468660-estrellas-serian-invisibles-20-anos
Imaginemos um futuro não tão distante onde não há mais estrelas visíveis no céu, a tal ponto que haja campanhas de desinformação afirmando que elas não existem. Só os muito ricos que podem viajar muito longe ou para o espaço exterior que ainda conseguem vislumbrar as estrelas.
“Pollution is Colonialism”, Liboiron (2021).
Informação e vício. Viciados em informação. Informática ou infomania.
Informação e disputa de atenção.
Ciclo das notícias: do crescente até o esquecimento. Não resolve os problemas.
Adicção à notícias: a falsa impressão de que o mundo está prestes a acabar, e que se acompanharmos os acontecimentos recentes por tempo suficiente veremos um grande desfecho lógico para qualquer história. Os mercadores de notícia, assim como outros atores informacionais, vivem do “engajamento” – palavra que deixou de significar um comprometimento ativo para designar um processo de zumbificação de “usuários” viciados em informação. Para mantê-los engajados, os mercadores da notícia precisam fornecer informações mais e mais alarmantes e radicalizadores, num crescente que tende à invenção de factóides quando o estoque factual acaba, de modo que as notícias falsas tendem a convergir ou suplantar a notícia factualizada.
Essa dinâmica de “engajamento” e radicalização é favorável ao uso ideológico, especialmente pela ala fascista.
Poluição de conteúdo apócrifo, livros e “vazamentos” (leaks) tratando de episódios nunca acontecidos, etc, dificultando ainda mais a aferição de quais eventos, obras literárias clássicas etc foram ou não produzidas por sistemas infoluidores (“IAs”).
Nos séculos XIX e XX da era corrente houve a ascensão de várias poluições básicas: da composição do ar, dos rios etc. Todas podem ser de certa maneira entendidas como poluições informacionais, pois alteram (ou adulteram) a forma dos meios comuns. Quando o meio se torna a mensagem84, o meio se torna poluído. A poluição visual e sonora talvez tenham sido as primeiras identificadas como de característica informacional.
As energias eólicas, de tração animal etc nos aceleraram. A energia elétrica nos acelera. A informação ainda mais. Agir cada vez mas rápido para dar conta de uma taxa de transmissão e recepção de informação crescente, numa avalanche sem fim. Mais informação, mais trabalho com taxa de retorno decrescente mas com informação gerada crescente, até a exaustão.
Informação, plásticos e demais poluentes deveriam ser tratados com o mesmo cuidado que materiais radiativos. São tão nocivos quanto radiação, mas matam a curto e não a longo prazo, e produzem uma pluma de poluição tão difícil de lidar quanto plutônio.
Uma forma de poluição é gerada para que seja possível gerar a outra. Da queima de combustíveis fósseis, da construção de barragens, da fissão nuclear etc é gerada a eletricidade que polui o espectro eletromagnético e é usada para produzir informação, poluidora da noosfera.
Emissão de informação então não se restringe ao sentido dado pelos diagramas clássicos de informação (emissor/mensagem/meio/receptor/etc), mas também à emissão de lixo e também à emissão involuntária de informações, no caso de dispositivos de vigilância baseados na coleta de exaustores informacionais.
3.6.6 Lixificação
“Informação” em estágio avançado de lixificação.
Informação está deixando de ser o componente formativo das coisas e está passando a ser aquilo que as deforma. De matéria prima para rejeito, para lixo.
Suporte material da informação, aumento da quantidade de conteúdo armazenada e facilidade de reprodução (reprodutibilidade de conteúdo); por outro lado, fragilidade crescente na conservação e aumento da complexidade necessária para reproduzir a tecnologia (reprodutibilidade do suporte material).
A reprodutibilidade de conteúdo:
Com a queda do custo da reprodução de mensagens, estas se tornam acessíveis. Esta é a essência da revolução da imprensa de tipos móveis de Gutenberg: as ideias, o conhecimento etc ficam mais acessíveis.
A propriedade intelectual aparece no sentido de frear essa democratização ao mesmo tempo em que concentra o enriquecimento na mão dos poucos donos das casas editoriais.
O crescimento acelerado da reprodutibilidade, produz a longo prazo outro efeito nocivo: a competição entre conteúdos, especialmente os “enlatados” e “pasteurizados”, prontos para o consumo – uma série chamada “Reader’s Digest” é só um dos exemplos explícitos –, muitas vezes ofuscando a troca de ideias e conhecimento, fundamentais para a prática política.
A facilidade de envio:
Com a queda do custo de envio de mensagens, estas se multiplicam:
Morin (2005) - Terceira Parte - Cap. 2 - Seção 5 - Nota de Rodapé 6, pág. 440:
“Toda a vida moderna repousa na possibilidade de multiplicar as informações por um preço mínimo” (Brillouin, 1959, p. 154).
Brillouin (1962) pág. 294:
The very small value of the negentropy corresponding to rather large amounts of information is the fundamental reason why transmission of information is usually so inexpensive. Writing, printing, and electrical communication cost very little in entropy units. Their cost in dollars is correspondingly low. Modern life is based on these facts, and would be completely different in a world where the negentropy of information had a larger value.
Anteriormente, a produção e o envio uma mensagem eram custosos, seja um recado ou um livro. Fazia-se necessário considerar, pensar, trabalhar o conteúdo da mensagem.
O envio e recebimento acelerado de uma mensagem pressiona o envio mais e mais rápido de uma resposta.
O envio displicente de mensagens gera uma condição precarizante. É muito fácil pedir coisas, divulgar coisas, poluir as caixas de mensagens das pessoas. Consequências da hiperexposição informacional incluem a amnésia e o esgotamento (burnout) e também uma pré-disposição à “programação” via sugestionamento; temas tratatos ao longo deste trabalho dentro do espectro do que chamaremos de “tortura”.
Informação e amnésia/memória: o paradoxo da quantidade de informação crescente produzindo cada vez menos memória na mente das pessoas. Temos acesso a tanta memória e memorizamos tão pouco.
A facilidade de geração:
- Sobre geradores de texto, alguém disse que “if it’s not worth your time writing it, it’s not worth my time reading it”.
A perda de valor:
Polt (2015)85 comenta sobre o paradoxo trazido pela própria informação: em grande quantidade, ela deixa de fazer sentido:
Ironically, information now blocks our way to the forma or essence (Heidegger ZS, 58/GA 89, 75). “The more frantically the volume of information increases, the more decisively the misunderstanding and blindness to the phenomena grows” (ZS, 74/GA 89, 96)
Evidentemente que esta constatação não faria sentido no mundo antigo.
3.6.7 Indigência Artificial
Discussão (ou parte dela) a ser talvez movida ou integrada na seção “Indigência Artificial” do ensaio Rhatto (2024).
Os perigo imediato da “IA” hoje não é o advento de um “superinteligências” autônomas que ameacem a humanidade e a vida na Terra (cenário “Skynet” / “General AI” / “Artificial General Intelligence” - AGI), mas o uso estratégico da poluição gerada por “IAs” (“Special Purpose IAs”) para tirar vantagens em cima da população, além de ferramentas de controle social, como o reconhecimento facial e sistemas de julgamento assistido por software.
O lobby das corporações operadoras de “IA” usa o temor da criação de “IAs” gerais e hostis para – agora que já estão estavelecidas no mercado – limitarem a pesquisa e criação de outras “IAs”, e assim terem o monopólio de licenciamento de uso – seja para controle social direto (“sociedade do controle”) ou indireto (sociedade do descontrole via geração de lixo informacional). A classe dominante usa o bode expiatório das “inteligências gerais e hostis” para manter seu monopólio sobre as “inteligências de propósito específico” e ganhar tempo para que tentem inventar suas sonhadas “inteligências gerais”. Tais propósitos gerais e específicos sempre serão hostils ao resto da humanidade.
Ironicamente, os slogans de uma destas corporações são “não seja mau” e “organizar a informação do mundo”. Enquanto o de outra é “mover rápido e quebrar coisas”.
Esta nova oligarquia mundial é baseada no monopólio da “IA”. Almejam suprimir do resto da sociedade a tecnologia que eles mesmos criaram, similar ao que acontece com a bomba atômica. E as “IAs” são a “bomba atômica informacional” por excelência.
No que tange ao uso poluente, “IAs” tendem a turbinar ideologicamente a sociedade, canalizando opiniões coletivas em níveis sem precedentes. Tendem a poluir o debate com “opiniões” de atores falsos.
As chances de alguém ler um texto já parecem muito menores do que o mesmo ser ingerido por um sistema de “IA”.
As mesmas “inteligências artificiais” que expropriam o intelecto geral disperso nas redes informacionais com fins de aumentar a eficiência da extração de lucros são usadas para fomentar um desintelecto geral, robotização e precarização das pessoas.
Ao mesmo tempo em que dificultam o trabalho de checagem de fatos não só atuais como históricos. Se “factualidade” já é um conceito difícil de se estabelecer numa historiografia clássica, a nova historiografia terá de se deparar com um mar de lixo informacional e destilar aquilo que mais potencialmente esteha associado a “fenômenos factuais”.
Imaginemos não só obras de ficção, mas uma avalanche de conteúdo que soe como ” histórico” – não só livros, filmes, podcasts como inclusive “pergaminhos” e “papiros” “digitalizados”, assim como “dossiês”, “estudos”, “relatórios” e até “vazamentos”. Isso tendea dar um trabalho enorme para criação de cadeias de custódia e autenticidade de conteúdos – como hashes digitalmente assinados com lastros em documentos físicos para de algum modo estabelecer relação verificáveis entre obras “digitais” e suas fontes “analógicas” (pessoas, documentos etc).
Não dá mais pra saber se um conteúdo tem lastro com a antiga ilusão coletiva que chamávamos de realidade, ou se faz parte da nova ilusão coletiva gerada por sistemas estatísticos chamados de “Inteligências Artificiais”.
A “sociedade de afluência” informacional se tornou, de fato, uma sociedade de efluentes poluicionais.
O que sobra em termos de “informação de qualidade”, estratégica, é privada, secreta ou vendida (“paywalls”), aprofundando a desigualdade de oportunidades no campo informacional: “boa informação” sendo um privilégio, e quem não conseguir acesso a ela terá uma forçosa existência num aterro informacional.
As “tecnologias da informação” são produzidas e produzem o apocalipse informacional, estimulando mais e mais a criação de analisadores estatísticos do tipo “IA”.
Os grandes fabricantes destas tecnologias as mantém fechadas, sob segredo e em regime de propriedade intelectual.
Restringem o acesso para:
Ter exclusividade sobre uma base de informações, evitando a mineração das “IAs” dos concorrentes.
Manter um celeiro de “usuários” dependentes ou mesmo viciados na plataforma, sob coleta-extração-vigilância constantes fornecendo ingormação para “IAs” proprietárias.
E assim podem vender o serviço de uso, monopolizando o acesso àquilo que passa a ser considerado como “inteligência”.
Este é um processo de extorsão da “realidade”.
Isso força outros atores, mais populares, a entrarem neste triste jogo e fomentaram suas próprias tecnologias de extração de inteligência a partir do lixo informacional. São forçados a isso, não necessariamente por acreditarem que esse tipo de tecnologia é benéfico, mas para não ficarem totalmente à mercê dos novos mercadores da realidade (reality brokers).
A problemática da “liberdade de expressão” sendo “resolvida” por um choque de “credibilidade” com a monopolização das tecnologias de checagem de “fatos” (“fact checking”) mediante o uso de “IA”.
Adentremos agora numa seara ainda mais especulativa.
A atual e também vindoura crise de superprodução, aliás hiper/ultraprodução informacional.
Como qualquer parque indústrial da economia de escala, a indústria informacional não vai parar de vomitar dados até entupir o mundo muito além dos limites suportáveis e assimiláveis. Produzirá uma onda de choque suficiente para destruir a capacidade de julgamento do “real”, pavimentando com isso a próxima “nova ordem mundial”.
Chapados de tanto conteúdo, quem irá notar ou se interpor às guerras, morticínios e demais opressões afetando o outro? Se isto já acontece e acontecia nas versões anteriores da “indústria da (in)consciência”, brevemente teremos um aprofundameto brutal e talvez sem volta.
Outra chantagem do monopólio das “IAs” será a venda de serviços baseados nessas mesmas “plataformas” que forneceriam “senso”, ou “sentido” enviesados num mundo poluído por essa própria tecnologia, na lógica de produzir o problema para vender a solução.
Este monopólio também vislumbra-se como da “fonte da verdade” em vários sentidos:
O monopólio da tecnologia em si, através de segredos industriais e “propriedade intelectual”.
O que for “checagem de fatos” (“fact checking”), notícia e “informação verificada”, para além daquilo que uma pessoa pode confirmar numa experiência mais direta, tende a ser um monopólio dos novos “information brokers” também figurando como “mercadores do conhecimento”. A tendencial queda das taxas de lucro afetando a imprensa não produzirá somente mais e mais “muros de pagamento” (“paywalls”) como também uma restrição a quem pode acessar informações checadas por alguma auto-proclamada “autoridade” (como “IAs”).
Ao produzirem o próprio consenso sobre o que é a cognição, o que é relevante, o que é “real”.
Esse duplo movimento coloca as “IAs”, num paralelo proverbial, a figurarem simultaneamente nos papéis de Demônio do Primeiro (Maxwell, informação-classificação) e do Segundo Tipo (Stanislaw Lem, informação-poluição), apesar de operar dentro dos limites termodinâmicos.
Ciclo vicioso das notícias, engajamento em campanhas via atenção e replicação.
Informação também enquanto formação e treinamento de “IAs”.
Treinamento e poluição adversarial: escalada pela identificação de padrões dentre o lixo produzido tanto pelos inimigos quanto pela externalização de outras “IAs”: exponenciação da poluição, aumento do custo energético para triagem etc.
Redes neuróticas:
“IAs” de propósito específico, treinadas com os “datasets” das pessoas.
Posteriormente, pessoas sendo “treinadas” pelas “IA” que elas treinam.
Tem que alimentar o “tamagochi” em forma de ouroboros.
Schizogenesis (cismogênese como impulsionadora das técnicas de guerra”):
“IAs” de propósito específico: impulso vem da própria dinâmica competitiva capitalista.
“AGIs”: o mesmo temor da existência da bomba atômica alimentou sua criação: “é melhor construirmos, pois o outro pode estar construindo”. O mesmo pode estar ocorrendo com as “AGIs”.
Analogamente, como aponta Rushkoff (2022)86, o medo das “AGIs” impulsiona a corrida pela sua construção (mesmo que “AGIs” sejam apenas quimeras):
I was at a small invite-only conference for “friends of” a tech industry leader, where I met the wealthy founder of a social media app who was so afraid of the coming age of AI that he was careful not to ever post anything negative about thinking machines. “We can talk about them here”, the twenty-eight-year-old practically whispered to me, “but never on the record, and never ever online.”
This young man’s fear was that when the AIs do take over, they will review all of our social media posts in order to determine who among us are friendly to their interests and who must be eliminated—like the Chinese Cultural Revolution or the McCarthy hearings, except conducted by robots.
Yes, he had this insight while tripping on some sort of toad venom with a shaman. But on returning to work the next week and observing how his own company was using AI, he concluded that his vision of AIs networking themselves together into a new planetary governance structure was, to use his word, “inevitable.” He warned me to be careful about the essays I post, and maybe to pepper them with some hints that I was only concerned for how people would exploit AI, not about the AI itself. Although he then admitted that this strategy was doomed to fail, since AIs would be able to discern such subterfuge by analyzing our linguistic patterns over time.
“It’s not that I hate AI – I just fear them. That may not be interpreted as a threat to their interests.” The bigger the billionaire, the greater the fear, and the countermeasures. Elon Musk told a 2014 audience at MIT that by experimenting with AI, Larry Page and his friends at Google are “summoning the demon .” In a now famous Vanity Fair account of a conversation between Elon Musk and DeepMind creator Demis Hassabis, Musk explained that one of the reasons he intended to colonize Mars was “so that we’ll have a bolt-hole if AI goes rogue and turns on humanity.” Similarly, Musk has been developing a neural net apparatus that can be lasered onto our brains, which would potentially allow us to compete with a superintelligent rogue AI that turns against us. Of course, most of Musk’s space technologies are entirely dependent on AI, so a Mars mission may be less a means of escape than running straight into the robots’ arms.
Esta corrida “inevitavelmente” produz tecnologias, e não necessariamente produzirá “AGIs”, mas certamente aprofundará a indigência artificial.
Uma dinâmica desse tipo foi ficcionalizada no filme “Transcendence” (2014), no qual um próprio grupo subversivo opositor às “AGIs” acaba agindo em prol da criação de uma.
Paranóia ocidental já no “formismo” (ideologias do tipo platônica as formas) e no empirismo. Paranóia que leva às bombas. O mesmo raciocínio reflexivo que impulsionou a construção da bomba atômica hoje impulsiona a corrida pelas Indigências Artificiais: “sabemos que um aparato deste tipo será destrutivo e que talvez seja possível de construí-lo; nossos oponentes devem saber disso, e devem estar pensando que nós estamos pensando o mesmo, e devem estar pensando que nós já estamos construindo, e por isso devem estar construindo; por isso devemos construir: façamos antes que nossos oponentes façam”.
Esta indigência não é somente produzida por processos conhecidos como “Inteligência Artificial” e “aprendizado de máquina”^[Aliás, confunde-se a plasticidade maquínica com “aprendizado de máquina”, como também por qualquer processo de despossessão, privação e direcionamento cognitivo.
Informação tem se aproximado do lixo e Inteligência da produção de indigência.
Apelar para as ditas “Inteligências Artificiais” tem sido a alternativa para processar largas quantidades de “informação” na expectativa de extrair conhecimento tático-estratégico, ao invés da lenta e penosa tarefa de selecionar e estudar conteúdo “manualmente” e que produz outro tipo de resultado.
3.6.8 Infocapitalização
- Na dimensão das relações sociais do longo prazo que se revela cada vez mais
curto, há uma guerra contra o trabalho vivo e contra qualquer oposiçã a este
processo, esboçado por esta breve dialética para além da trinca
Capital-Trabalho-Informação:
Discussão (ou parte dela) a ser talvez movida ou integrada na seção Agouritmo de Rhatto (2024), ou constar como complementação do Ensaio 2.
Se este processo ocorrerá ou se é apenas um devaneio das elites, só o tempo dirá.
Num plano mais econômico:
Para além de Zuboff (2019).
Terceirização do trabalho (para clientes e “colaboradores”).
Expropriação crescente do valor gerado pelo trabalho.
Internalização dos dados gerados pelo trabalho terceirizado, aprofundando ainda mais ou processo de terceirização, expropriação e roubo adicional dos dados gerados e substituindo o quanto possível o trabalho remunerado por não-remunerado. Esta também é uma forma de vigilândia do trabalho e do consumo.
Dados são tratatos e abstraídos em procedimentos de controle, decupando e atomizando cada vez mais a forma e o conteúdo do trabalho terceirizado. Parte destes dados, assim como “análises” (“analytics”) são também vendidas para terceiros como “conhecimento” ou “inteligência” agregada e estrategizável.
Bancos de dados contendo toda a abstração do trabalho necessário para manter uma pequena elite com nível suntuoso de vida e servida por aparato mecanizado, momento em que sistemas já teriam sido completamente “treinados” pelo trabalho terceirizado.
Substituição e obsolificação do trabalho humano e da classe trabalhadora.
Informação e fechamento: humanos sendo jogados para dentro (hiperexposição) e para fora (eliminação do trabalho, com a informação manipulada pela maquinaria) do loop informação, tendência ao extermínio pelo “deixar morrer”, genocídios, pandemia ou pior.
Num plano mais político, digamos assim:
Guerra informacional em operações psicológicas de várias dimensões e amplo espectro a partir da Informação enquanto valor estratégico e lixo para os oponentes e oposições, moldando opiniões e situação política.
A população residual e “desnecessária” para esse processo pode ser “agendada” para destruição por diversos meios.
3.6.9 Infopocalipse
- Infopocalipse:
Infocalipse ou “infoapocalipse” anunciado e buscado.
O cenário da OTAN para os anos de 2040:
- “2040: An Information Odyssey”, Matejic (2020).
“Singularidade” Informacional: sem condições de distinguir se conteúdos gerados são fantasiosos.
Informações tem sido usadas com tática e estratégia para nos desunir, nos chocar, nos enganar, nos paralisar, nos neutralizar e até nos encarcerar, ferir, torturar e matar. Informação tem sido o arcabouço e o calabouço teórico do controle e da dominação. Nada disso é um efeito transcendetal de uma entidade pretensamente mística chamada de Informação. Informação é meramente o novo guardachuva conceitual e explosivo pelo qual esses processos tem sido explicados, e é a maneira que se abstrai a concretude das ações e resultados de uma imensa maquinaria apocalíptica.
- A Nova Bomba Atômica e o Holocausto Informacional:
Duas tecnologias semelhantes: o computador e a bomba atômica, Peters (1988) págs. 19-20:
The two great technologies of the second world war – the computer and the Bomb – share more than a common origin in physical science. They share a common cultural space and symbolism. Information is often spoken of in nuclear terms: its half-life (as it decays like radioactive matter), it explodes if it fissions too fast, its molecular or granular quality. It shares semiotic space with subatomic physics, coming in bits, flashes, bursts, and impulses, and is often treated as mental photons: the minimal quanta of the cognitive stuff.
Both the Bomb and Information, moreover, cater to our pleasure in possible apocalypse, the exhiliration moderns (so used to the thrill of the new) feel in contemplating self-destruction. The end of the quest for novelty is death, the biggest bang of them all. Berman (1982) persuasively portrays modernity as the experience of everything solid melting into air. The Bomb is a means of accelerating the turnover in the realm of matter; information, of intellect. Both help to constantly revolutionize material and intellectual means of production. Both appeal to the love of absolute novelty, to the longing for those fresh beginnings and frontiers of various sorts […] Information stands at the frontier of knowledge, while the Bomb sits at the outer edge of human history. Both are means for making the future different from the past. One stands at the latest, and the other at the last, moment of history.
How can information be compared with atomic weaponry? How can it be accused of being a means for wiping out the past? First, information (like its ancestor, sensation) inexorably decays. It resides in the “experiences” of the knowing subject, not in a fixed form in the world (it has been utterly dematerialized). Instead, information’s value is given in relation to time (its freshness or staleness) and its accuracy. New “information” does not enlarge or transform old information, but makes it obsolete. Information belongs to a very different economy than texts, which preserve meaning across all the ravages of time. When a library is thought of as containing information, then one has set up a discourse in which the obsolescence of texts is natural […] Perception is fleeting and variable […] while inscribed in some fleshly or material form – a text (Ricoeur, 1971) – it lasts. […] The resistances of texts to interpretation, and their power to engender many and conflicting readings, evaporates when they become information, the latest sensation in the eyes of the world brain. Information lacks history: it belongs only to the present moment and risks being made obsolete in the next.
Second, information minimizes the past as an influence on the present through its in-built ideology of progress. Information is the stuff of science, and science is (rightly) where this doctrine has taken strongest root.
Completude da Informação e da Bomba Atômica: o desastre nuclear, Peters (1988) pág. 20:
[…] the completeness and totality of the information revolution: nuclear disaster. But it also reveals the truth of the Information Age: centralization of world control in the computer-cable-satellite communications networks used by finance, commerce, and defense […] a communications network of optical fibers will not be crippled when the Bombs go off, unlike one based on copper. The system, at least, will survive.
Do “2024 Doomsday Clock Statement”, mencionando as ameaças nuclear, climática, biológica e “IA”, reforçando a relação entre informação, poluição e bomba/guerra, Bulletin of the Atomic Scientists (2024):
The dangers of AI
One of the most significant technological developments in the last year involved the dramatic advance of generative artificial intelligence. The apparent sophistication of chatbots based on large language models, such as ChatGPT, led some respected experts to express concern about existential risks arising from further rapid advancements in the field. But others argue that claims about existential risk distract from the real and immediate threats that AI poses today (see, for example, “Evolving biological threats” above). Regardless, AI is a paradigmatic disruptive technology; recent efforts at global governance of AI should be expanded.
AI has great potential to magnify disinformation and corrupt the information environment on which democracy depends. AI-enabled disinformation efforts could be a factor that prevents the world from dealing effectively with nuclear risks, pandemics, and climate change.
Military uses of AI are accelerating. Extensive use of AI is already occurring in intelligence, surveillance, reconnaissance, simulation, and training. Of particular concern are lethal autonomous weapons, which identify and destroy targets without human intervention. Decisions to put AI in control of important physical systems—in particular, nuclear weapons—could indeed pose a direct existential threat to humanity.
John Durham Peters parece ter, há mais de trinta anos, prenunciado a próxima etapa da imbricação da Bomba com a Informação: o holocausto não-radiativo da enxurrada de bombas, vide Abraham (2023):
Permissive airstrikes on non-military targets and the use of an artificial intelligence system have enabled the Israeli army to carry out its deadliest war on Gaza, a +972 and Local Call investigation reveals.
The Israeli army’s expanded authorization for bombing non-military targets, the loosening of constraints regarding expected civilian casualties, and the use of an artificial intelligence system to generate more potential targets than ever before, appear to have contributed to the destructive nature of the initial stages of Israel’s current war on the Gaza Strip
[…]
The bombing of power targets, according to intelligence sources who had first-hand experience with its application in Gaza in the past, is mainly intended to harm Palestinian civil society: to “create a shock” that, among other things, will reverberate powerfully and “lead civilians to put pressure on Hamas,” as one source put it.
[…]
According to the investigation, […] reason for the large number of targets, and the extensive harm to civilian life in Gaza, is the widespread use of a system called “Habsora” (“The Gospel”), which is largely built on artificial intelligence and can “generate” targets almost automatically at a rate that far exceeds what was previously possible. This AI system, as described by a former intelligence officer, essentially facilitates a “mass assassination factory.”
According to the sources, the increasing use of AI-based systems like Habsora allows the army to carry out strikes on residential homes where a single Hamas member lives on a massive scale, even those who are junior Hamas operatives. Yet testimonies of Palestinians in Gaza suggest that since October 7, the army has also attacked many private residences where there was no known or apparent member of Hamas or any other militant group residing. Such strikes, sources confirmed to +972 and Local Call, can knowingly kill entire families in the process.
[…]
From the first moment after the October 7 attack, decisionmakers in Israel openly declared that the response would be of a completely different magnitude to previous military operations in Gaza, with the stated aim of totally eradicating Hamas. “The emphasis is on damage and not on accuracy,” said IDF Spokesperson Daniel Hagari on Oct. 9. The army swiftly translated those declarations into actions.
[…]
The Chief of Staff of the Israeli Air Force, Omer Tishler, told military reporters that all of these attacks had a legitimate military target, but also that entire neighborhoods were attacked “on a large scale and not in a surgical manner.”
[…]
[…] The sources understood, some explicitly and some implicitly, that damage to civilians is the real purpose of these attacks.
[…]
Intelligence sources who served in the previous operations also told […] that, for 10 days in 2021 and three weeks in 2014, an attack rate of 100 to 200 targets per day led to a situation in which the Israeli Air Force had no targets of military value left. Why, then, after nearly two months, has the Israeli army not yet run out of targets in the current war?
The answer may lie in a statement from the IDF Spokesperson on Nov. 2, according to which it is using the AI system Habsora (“The Gospel”), which the spokesperson says “enables the use of automatic tools to produce targets at a fast pace, and works by improving accurate and high-quality intelligence material according to [operational] needs.”
[…]
[…] “It really is like a factory. We work quickly and there is no time to delve deep into the target. The view is that we are judged according to how many targets we manage to generate.”
A senior military official in charge of the target bank told the Jerusalem Post earlier this year that, thanks to the army’s AI systems, for the first time the military can generate new targets at a faster rate than it attacks.
– A mass assassination factory’: Inside Israel’s calculated bombing of Gaza https://www.972mag.com/mass-assassination-factory-israel-calculated-bombing-gaza/
Acessado em 05/12/2023
Abraham e Goodman (2023):
Now, in 2014, which was the previous biggest Israeli assault on Gaza, according to sources that I’ve spoken with, the Israeli military ran out of targets after roughly three weeks. And that operation lasted for 50 days. And sources have described a sense that in previous operations, that the military just runs out of targets to bomb, and alongside that there is some political pressure or some need to continue the war, to create a victory image for the Israeli public, to work, you know, to apply more pressure. And I think this increasing use of artificial intelligence, this acceleration of target creation, in part, is a response to that problem, to running out of targets.
And what we know now from sources is that target production using these programs — one of them is called “The Gospel,” and according to sources, it does facilitate this mass assassination factory that I can get into in a moment. But the rate of creating the targets is now faster than the rate that Israel is able to bomb the targets. And in this Targets Division, according to the army’s sources, already 12,000 targets were created during this war in this Targets Division, using these artificial intelligence tools, which is too much — two times as many targets as were bombed in the entirety of the 2014 war, which lasted for 51 days.
Artigo publicado em 02/11/2023, indicando que em menos de um mês (desde o início da guerra de 2023 na Palestina, no dia 7 de Outubro), Euro-Med Human Rights Monitor (2023):
Israel hits Gaza Strip with the equivalent of two nuclear bombs
Israel has dropped more than 25,000 tons of explosives on the Gaza Strip since the start of its large-scale war on 7 October, equivalent to two nuclear bombs, Euro-Med Human Rights Monitor said in a press release issued today.
According to the Geneva-based human rights organisation, the Israeli army has admitted to bombing over 12,000 targets in the Gaza Strip, with a record tally of bombs exceeding 10 kilograms of explosives per individual. Euro-Med Monitor highlighted that the weight of the nuclear bombs dropped by the United States on Hiroshima and Nagasaki in Japan at the end of World War II in August 1945 was estimated at about 15,000 tons of explosives.
Due to technological developments affecting the potency of bombs, the explosives dropped on Gaza may be twice as powerful as a nuclear bomb. This means that the destructive power of the explosives dropped on Gaza exceeds that of the bomb dropped on Hiroshima, Euro-Med Monitor said, noting that the area of the Japanese city is 900 square kilometres, while the area of Gaza does not exceed 360 square kilometres.
– Israel hits Gaza Strip with the equivalent of two nuclear bombs https://euromedmonitor.org/en/article/5908/Israel-hit-Gaza-Strip-with-the-equivalent-of-two-nuclear-bombs
Acessado em 05/12/2023
Só este nome, “The Gospel”, já diz muito.
Comentar sobre a vigilância de massa baseada no constante monitoramento da população, obtida de diversas maneiras. E que esta é de fato a “Smart City” das zonas de contenção e extermínio, dos campos de concentração a céu aberto.
O in-tenso acoplamento entre sistemas ditos de “Inteligência Artificial” permite agora que uma máquina de guerra despeje o equivalente a várias bombas nucleares num único território, sem o risco dos efeitos da radiação nuclear. Esta é a nova Bomba Atômica, que atomiza Gaza e “nivela” (“levelling down”) territórios. Como esse tipo de bombardeio não gera o icônico e imenso cogumelo nuclear, ele não parece ainda chocar a opinião publica do exterior. Há ainda o discurso falacioso de tratar-se de um bombardeio em grande escala, mas que ao mesmo tempo é “cirúrgico”, ao passo de que não poupa civis e nem estruturas de caráter humanitário e comunitário, como mesquitas, escolas e casas.
Para uma máquina de guerra que antes tinha capacidade instalada de bombardear mas que ficava “ociosa” pela falta de “produção de alvos”, o acoplamento com os sistema de vigilância de massa e seleção de alvos agora fornece, ou “produz”, alvos em grande quantidade, permitindo um crescimento de bombardeios em escala nuclear. A capacidade de processamento informacional ainda é até mais rápida em fornecer alvos, suprindo a demanda por “alvos” numa taxa além do que um exército consegue bombardear. Informação como in-formando as armas de destruição em massa.
Este bombardeio e todo o morticínio de Gaza se utiliza de informação obtida por vigilância e enviesamento processado por “IA”, e apenas se sustenta com outro uso estratégico da informação, consistindo em campanhas internas (dentro de Israel) e externas de desumanização do povo Palestino e de justificação da guerra. Campanha esta que também é baseada em vieses durante o processamento de informação, que vai desde a censura, passando pela seleção de conteúdos até a produção de narrativas de guerra psicológica interna (“bombas semiológicas”).
Não é só de pólvora, dinamite e outros com postos químicos que se fazem bombas as bombas de hoje, assim como também de muita informação.
Gaza 2023, memória e informação:
Arquivo da cidade de Gaza destruído.
Jornalistas assassinados, inclusive em ataques direcionado por drone (vide o caso de Samer Abudaqa).
Relatório “Israel’s Surveillance Industry and Human Rights: Impact on Palestinians and Worldwide”, The Arab Center for the Advancement of Social Media (2023).
Um sistema deste pode produzir horrores computacionais para além daqueles da IMB/Hollerith/Dehomag durante o pesadelo nazista dos anos 30 e 40: https://blog.fluxo.info/books/history/ibm-holocaust/
Esta é uma maquinaria doente e adoecedora. Uma maquinaria extracionista da expoliação e da destruição, que em nada melhora a vida dos seres, apenas aprofundando as mazelas.
3.7 Desinformação
3.7.1 Críticas e análises existentes
- Outras críticas e análises relevantes, incluindo contribuições para a crítica
da informação enquanto teoria:
Crítica de Morin (2005) à Teoria da Informação.
León Brillouin:
“Extinction Internet”, Lovink (2022).
“A hacker manifesto”, Wark (2004) Cap. “Information”.
Em Capurro (2022):
Heidegger sobre cibernática e informação, Capurro (2022) pág. 9.
Perda do significado pedagógico da palavra “informação” nos últimos duzentos anos, Capurro (2022) pág. 178.
Significação lógico-processual da informação, Capurro (2022) pág. 196.
Crítica de Werner Kunz e Horst Rittel de que87
información no tiene por que ser interpretado como un substrato que es transportado y procesado como una mercancía, sino que puede entenderse como un proceso o una operación con participantes de una comunicación en vistas a un estado posible.[484]
Forma entendida não somente como o contorno externo, Capurro (2022) págs. 253-254.
“Code: From Information Theory to French Theory”, Geoghegan (2023).
“We Are Bellingcat: An Intelligence Agency for the People”, Higgins (2022), incluindo:
Cap. 3, sobre desinformação.
Cap. 5, sobre “AI”.
3.7.2 Informação (não) é o que ela faz
“Information is what information does” / “Meaning is what meaning does”88. Similar ao dito de Stafford Beer sobre o propósito de uma máquina.
“Informação é o que a informação faz”. Mas o que a informação faz? A informação não faz nada: a informação é mais uma relação entre atores do que um ator. Vide a crítica de Morin (2005) sobre o sentido que o conceito de informação faz apenas se considerados sistemas que interpretam a informação.
Informação versus dados.
Informatização: informação como coisa coisada:
Informatização: quando a forma é formatada segundo a teoria matemática da informação do tipo da de Shannon-Weaver.
A informatização não foi somente um processo de abstração em torno do conceito shannoniano de informação, como também de atomização no sentido de conceber/produzir um constructo facilmente recombinável, transmissível e proliferante.
A proliferação de formas (Ockham).
Coisificação, reificação, commodificação etc.
In- como negação:
- Inesperado:
Aquilo que já é esperado é informação? Tem mensagem?
Mas e quando o conjunto de perguntas é indeterminado, e as respostas são abertas – isto é, admite-se respotas para alén do sim ou não?
Ignorância realmente se mede em bits?
- Inexprimível:
O inefável é indizível shannonianamente. Exemplo de mensagem irrelevante.
Indizível em qualquer aspecto, simplesmente por ser inefável.
- Incontrolável:
Informação não informa. Informação controla ou descontrola.
Descontrole é um caso do controle:
- Um sistema A é descontrolado por outro sistema B quando perde sua capacidade de controle. Neste caso, o sistema B, através de controle, iniciou o processo de descontrole do sistema A.
- Indigitalizável:
- Digitalização como uma cama de Procrusto.
- Informação em duas vertentes:
O que tem sido (lixificação).
O que pode vir a ser (diversificação).
- Inesperado:
Informação em pedaços:
Pedaços do quê?
O números de bits de informação contido numa mensagem inesperada é indeterminado, porque nunca se saberá qual é o conjunto de todas as informações que poderiam chegar.
Nesse sentido, dividir a informação em “pedaços” (“bits”) não faz sentido.
Mas daí para dizer que a teoria shannoniana da informação é inútil seria como jogar a água do barco naufragando junto com a tripulação.
É importante ter em consideração que a teoria de Shannon-Weaver posui um escopo de aplicabilidade muito limitado.
Ela trata de mensagens bem definidas e específicas, e que possam ser codificadas por um conjunto de símbolos pré-definido.
A informação, neste contexto, está relacionada aos arranjos de símbolos específicos usados para codificar uma mensagem.
Se a mensagem já está codificada em algum sistema simbólico – como é o caso de qualquer linguagem –, a teoria shannoniana ajuda a encontrar o conjunto de símbolos que cofifica a mensagem usando a menor quantidade de “pedaços” (“bits”).
Na maioria dos casos, ainda não há una “mensagem” – no sentido desta teoria – a ser codificada.
Se a “mensagem” ainda não está codificada, isto é, há “algo” no mundo que ainda não foi enunciado enquanto “mensagem”, a teoria shannoniama fornece uma base para tal enunciação, consistindo em atribuir símbolos a partir de medições dos fenômenos que se quer comunicar, num processo tipicamente chamado de “digitalização”.
Bit, pedaço: menor unidade cognoscível numa concepção divisionista da realidade. Dividir para conquistar. O ápice do projeto atomista, de atomização e mercantilização. Nem a luz foi poupada de uma quantificação reducionista, assim como o espaço.
Pedaço, unidade de luz: fóton, onda-partícula.
Unidade de espaço: limite de Planck.
Unidade de tempo: ?
“Política em pedaços”, tese e livro de Gustavo Steinberg.
Informação construída como:
Informação construída como um jogo de perguntas e respostas sim/não.
Ou como enunciações feitas a partir de medições feitas no mundo.
Ou aquilo que não foi perguntado, nem pedido/solicitado, e que é indesejado.
Informação e Linguagem:
“Philosophy of Information”, Pieter Adriaans (2008), incluindo:
Informação para agir e acreditar, Kamp e Stokhof (2008) pág. 103:
For what people need and want first and foremost is true information about their world - information that makes it possible for them to plan their actions, by enabling them to make predictions about the consequences that the different lines of action open to them might have.
But none of this should blind us to the fact that it is nevertheless linguistic information as we have defined it - information about how the world might be, rather than information about how it actually is - that is the central notion in relation t o human language; it is this kind of information that is language’s principal commodity, not the kind of information that has truth built into it. One indication of this is that all we have said about the interpreter’s handling of both non-presuppositional and presuppositional content that is motivated by the concern for truth is ultimately not about the truth as such but about what the interpreter thinks is true. It is because the interpreter can represent the world as being of a certain kind, and thus imagine it to be of that kind, that he is also capable of thinking that it is of that kind. But in the case of thought, as in that of language, the commitment to the world actually being of a certain kind is distinct and detachable from the conception of a world of such a kind as such. This distinction- between truth and mere possibility, or, if you prefer, between belief and imagination - is at the core of information both as a cognitive and a linguistic commodity.
Linguagem, informação e definição: um círculo metalinguístico inevitável, Capurro (2022) pág. 260:
La segunda característica del concepto de información comunicacional humano, la univocidad, incita a von Weizsäcker a una reflexión sobre si el lenguaje puede reducirse a ella en el sentido del dictum de Ludwig Wittgenstein:
Todo lo que puede pensarse, puede pensarse claramente. Todo lo que puede expresarse, puede expresarse claramente. 555
Pero de acuerdo con von Weizsäcker, el intento de reducir el lenguaje a univocidad y por tanto a información presupone el uso del lenguaje natural no-unívoco. El concepto mismo de univocidad no puede evitar, cuando intentamos definirlo, el círculo ya mencionado: para poder definir proposiciones como verdaderas o unívocas precisamos un metalenguaje, el cual exige un metametalenguaje etc. Este círculo que es inevitable y tiene sentido,
es característico de todo pensamiento exacto. […] El hecho que se de lenguaje como información no debe olvidarlo nadie que hable sobre el lenguaje. El hecho que el lenguaje como información sólo es posible para nosotros en el trasfondo de un lenguaje que no esté transformado en información unívoca no debe olvidarlo nadie que hable sobre información. Qué es el lenguaje no está explicitado sino propuesto como pregunta desde una perspectiva determinada. 556
O conceito de informação e a promessa de um “sistema transparente de transferência de pensamentos”, Peters (1988) pág. 9. Seria essa a própria promessa de substituição da linguagem por algo ao mesmo tempo mais direto e muito mais mediado?
Informatividade, performatividade:
E se não quisermos ser “informativos”:
No sentido econômico do termo.
No sentido sucinto.
No quesito objetividade.
E se não quisermos ir logo ao assunto, ao ponto, comunicar somente o que julgamos necessário?
E se quisermos poesia?
Se informação é o inesperado, haveria ao menos dois níveis de inesperado:
O inesperado dentro de parâmetros de processamento, o inesperado dentro de uma faixa de expectativa.
O inesperado que foge dessas escalas.
Algo inesperado que alguém nem sabia que existia, nem solicitou, mas que no entanto apreciou ter recebido.
Fetiche da Informação: informacionalismo:
Vimos as funções do conceito de informação: efetividade na comunicação.
Mas também há o fetiche da informação.
“Ciência” da Informação está mais para “Engenharia”: construir a partir de blocos.
“Information wants to be free” / “A informação quer ser livre”.
“The Metaphysics of Information - The Power and the Glory of Machinehood”,
3.7.3 Ruído
- Informação e Ruído:
É necessário apenas um único bit para negar (ou reafirmar) todas as afirmações anteriores. Um bit indicando factualidade pode ser seguido por outro negando-a, e assim indefinidamente. “Agora sim, ops, agora não, ops agora sim outra vez…”.
Informação e esteganografia: ruído para uns, informação para outros.
O que primeiramente é ruído, posteriormente pode ser tornar padrão, estatística.
- “Ética Informacional”.
3.8 Oclusão
3.8.1 Compreensão
O “Anjo da História” de Walter Benjamin como um dispositivo informacional que recebe os sinais de uma história assombrosa e assombrada pelo espectro da informação.
O otimismo de uma Era da Informação afluente agora revela-se como projeto fracassado.
Não podemos mais depender tanto de sistemas de informação, que roubam nosso tempo, nossa atenção, nossa concentração etc.
É importante retomar a crítica a partir de Walter Benjamin: encontros presenciais conectados por viajantes, em redes de confiança. Ir a lugares, conversar com as pessoas, entender como estão as coisas, voltar e contar as histórias para quem não viajou.
Talvez boa parte de nós deixamos de ser viajantes contadores(as) de história. E grande parte nunca teve essa oportunidade. Precisamos de encontros, viagens e redes decrelação de confiança que inclusive tenham baixo impacto de carbono e lítio.
Precisamos é melhorar a educação baseada no contato pessoal não mediado pela aparelhagem.
Cientistas e Filósofos da Informação tem tentado salvar o conceito, como por exemplos os conceitos de General Definition of Information (GDI) e Special Definition of Information (SDI) em Floridi (2004): informação enquanto dados bem formados + consultas + significação + factualidade.
Mas talvez precisemos primeiro desinformar – no sentido de não ficarmos mais reféns do conceito vigente de “informação” – para em seguida re-informar, com um conceito de informação menos estreito e com uma maneira mais envolvente – que inclua as pessoas ao invés de alijá-las. Parafraseando Chico Science e Nação Zumbi, a dialética é do tipo “que eu me (des)informando possa (des)informar”, e assim podemos praticar relações que sejam mais “do nosso jeito”, como diz TC Silva.
“Informação” é um conceito que já está em descenso, extamente por ter agora atingido o seu ápice. Ele já não informa, ele é insuficiente. Precisa ser ressignificado, ou destruído.
Se não entendermos este processo, dificilmente teremos condições de pará-lo, ou de ao menos escapar dele.
3.8.2 Resumo
A transformação da palavra informação:
Da informação do mundo e das coisas para a informação da mente, momento em que informação começa a se relacionar com inteligência.
De informação da mente para a informação sobre as coisas. Informação e inteligência no seu máximo acolplamento.
Finalmente, de informação sobre para uma entidade existente por si própria, informação que, assim desacoplada de qualquer elemento material, pode ser manipulada, transmitida, recebida e sobretudo vendida: mercantilização do termo, onde informação passa a ser uma mercadoria, podendo ser recombinada, revendida, licensiada, obtida, armazenada etc. Informação e inteligência começam a se separar.
A informação metrificada, aprofundando este processo. Há uma separação entre informação e inteligência: a primeira precisa ser obtida em “estado bruto” para que a segunda possa ser “extraída”. Ambos os conceitos aqui já estão diminuídos de potência e amplitude, ao mesmo tempo que tem sido considerados mais “universais” e “precisos”. Informação tem sido subdividida entre dados e a organização/factualidade/qualidade etc dos mesmos, e a inteligência como processo de classificação.
De processo para propriedade, e de propriedade para coisa; uma coisa que pode ser armazenada, transferida, modificada, criada. Uma coisa “especial” que aponta para outras, que indica como as outras coisas são, ou até mesmo uma coisa que seria a essência de todas as outras coisas.
Em cada etapa, a quantidade daquilo que se considera como “informação” se multiplica, a ponto de gerar excessos, sobrecargas, a ponto de constituir mais um tipo de poluição. Atualmente estamos neste momento de transição.
Ironicamente, aquilo que antes era usado para designar a formação do belo, passa a conceituar a formação daquilo que é considerado sujo, espúrio, deformado. Da forma do belo para a informação do sujo.
Dizer que informação virou, ou está virando lixo é, sobretudo, dizer que o efeito principal da informação é tendencialmente de uma munição que se atira num alvo e que produz o efeito colateral do detrito, das cápsulas usadas, do alvo destruído, das balas perdidas, do entulho, do refugo. Informação simultaneamente como rejeito do processo informacional e como produtora de detritos de vários tipos.
Esta tendência não exclui o uso da informação enquanto parte do processo do conhecimento, extraindo algum valor de “dados”/notícias/etc, mas a dificulta cada vez mais.
As palavras que continham em si a polissemia e a polivalência perdem a diversidade e passam a indicar aquilo que é pouco valorizado.
O resumo deste arremedo de metateoria da informação é:
Apenas uma pequena parte do Universo foi informatizada. A informação existe apenas em pequenas regiões. A informatização é um processo de marcação da e na matéria. Inclusive para as marcações feitas na (própria) mente.
O processo de “informatização”: “hospedeiros” (termo usado pelo Chico para “data centers”) sugando o mundo pra dentro de si, produzindo desertos…
A teoria da informação shannoniana ofusca tanto que nos impede de pensar além.
Informação: a “fruta proibida”? Mas “informação” não é exatamente “conhecimento” por não encerrar todas as perspectivas do conhecer.
Informação não necessariamente informa, bit (“pedaço”) é uma atomização limitante, a primeira teoria da informação que conheço é de walter benjamin, inteligência e informação divergiram na dinâmica da vigiliância/poluição, e nenhuma delas é sabedoria.
Este conceito prevalente de Informação se transformou numa abstração abstraída de significado, a abstração mais abstrata, a ponto de ser um invólucro que não representa nada.
Informação gerando ilusão de variedade num mundo cada vez mais padronizado e com modos de vida homigebeizados.
Esta “informação” é simultaneamente a miséria da filosofia e a filosofia da miséria: colonizando o pensamento como uma entidade ontológica soberana, expulsa a pluralidade conceitual; ligada à maquinaria da dominação, produz a indigência e a destruição.
Precisamos evadir o quanto possível deste ciclo de “informação”, ou não teremos condições de trabalhar nas nossas próprias prioridades.
Agora é hora de sair da fôrma!
3.9 Suplementação
Esta seção é um apêndice.
3.9.1 Etimologia popular da palavra fōrma
No verbete fōrma de TLL (2019a)89 há um trecho de um interessantíssimo e antigo relato sobre sua etimologia (de origine):
DON. Ter. Phorm. 107 fornum veteres ignem et calorem quendam quasi fervorem dixerunt, et ideo fornaces, . . . -am et formosos, ex quibus amoris ignis exsolvitur. laudandus ergo Terentius proprietate servata, qui cum ‘-am’ praetulisset. subiecit ‘exstinguerent’. 108 bene ‘exstinguerent’, quia -a calor. ibid. -a ab igne et calore dicta est.
Trata-se de um comentário do gramático romano Aelius Donatus90 sobre os versos 107 e 108 da peça Phormio do escritor Terenti, cujos versos em latim são os seguintes91:
[…] ni vis boni In ipsa inesset forma, haec formam extinguerent.
Uma tradução inglesa e em prosa destes versos seria92:
had there been not an excess of beauty in her very charms, these circumstances must have extinguished those charms
Parte desses comentários de Donatus93 é reproduzida a seguir:
fornum veteres ignem et calorem quendam quasi fervorem dixerunt, et ideo fornaces, forcipes, formam et formosos, ex quibus amoris ignis exsolvitur, laudanus ergo Terentius proprietate servata, qui cum ‘formam’ praetuisset, subiecit ‘exstinguerent’
[…]
IN IPSA INESSET FORMA HAEC FORMAM EXSTINGUERENT figura πλοκή; aliud enim supra, aliud infra ‘forma’ repetita significat […] EXSTINGUERENT bene ‘exstinguerent’ quia forma calor […] Et ‘forma’ ab igne et calore dicta est.
Me falta um conhecimento minucioso da língua latina para verter esse trecho ao português, porém consigo entender que nessa etimologia antiga a palavra forma é associada ao forno, ao fogo, ao calor e à beleza.
Por sorte, encontrei uma tradução do trecho de Donatus para o francês em Laborie et al. (2009):
les Anciens appelaient fornus (four) un feu et une chaleur quelconques au sens de feruor (chaleur), et de là viennent fornax (fourneau), forceps (tenailles), forma et formosus (beau), expressions qui désignent le feu amoureux[716]. Il faut donc louer Térence pour avoir conservé le sens propre de ce mot, puisque, alors qu’il a mis formam auparavant, il ajoute exstinguerent.
[…]
1 IN IPSA INESSET FORMA HAEC FORMAM EXSTINGVERENT figure de la répétition (πλοκή): car le sens de forma est différent la première fois et la deuxième fois[718]. 2 in ipsa inesset formam il redouble la préposition[719] comme ailleurs: « in amore haec omnia insunt uitia ». 3 EXSTINGVERENT exstinguerent est bien dit, parce que la forma est une chaleur. 4 Et forma est étymologiquement lié à la notion de feu et de chaleur[720].
[…]
Notes
[…]
- Ernout-Meillet (DELL) considèrent le rapprochement entre “forma” et “formus”, “fornax”, etc., comme une étymologie populaire (que l’on trouve également dans l’abrégé de Paul-Diacre). On ne la trouve chez aucun autre grammairien que Donat. “Formus” (de la même racine que le grec θερμός, “chaud”) est un adjectif qui n’est plus conservé que chez les grammairiens et lexicographes pour expliquer “forceps”, nom d’une pince qui sert à attraper (“-cep”, de “capio”) les objets chauds (“formus”) ou des noms du fourneau. Quant au substantif “forma”, il n’a pas d’étymologie satisfaisante.
[…]
- Donat considère généralement qu’il y a “plokè”quand le même mot est répété avec deux natures différentes (nom et participe par exemple). Ici il s’agit de deux sens différents du même substantif, qui signifie d’abord “apparence” puis “beauté”.
[…]
- Il existe un adjectif “formus” apparenté à “θερμός” et qui n’a rien à voir avec “forma” et “formosus” (cf. la note à 107.3). Donat semble, par étymologie populaire, confondre les deux séries en une seule, comme s’il s’agissait en fait de deux emplois différents du même mot. C’est pourquoi il parle de πλοκή.
Um comentário do verbete fōrma em Ernout e Meillet (2001) se faz relevante94:
Les anciens (cf. Don. ad Ter., Ph. 107-108) rattachent fōrma à formus “chaud”, fornus, fornāx; ce n’est qu’une étymologie populaire, malgré Müller-Graupa, Gl. 31, 129.
Aucun rapprochement satisfaisant: l’ō fait une difficulté particulière. Sans doute emprunté. La fermeture de l’o devant r + consonne rappelle le passage de e à i dans los formes dialectales stircus, Mirqurios, osq. amirikalud. Un emprunt à gr. μορφή est possible, par un intermédiaire étrusque. Il s’agit d’un terme technique, concernant une industrie florissante chez les Étrusques. M. Benveniste envisage la possibilité d’un _*mōrma_ avec une dissimilation comme dans formīca. V. Ernout, Aspects, p. 66.
Seville et al. (2006) também oferece várias explicações para forma nessa mesma linha de forma, beleza e calor95:
The qualities of verbs are: derivational forms, moods, conjugations, and voices [and tenses]. 3. ‘Derivational forms’ (forma) of verbs are so called because they inform (informare) us about some particular deed, for through them we show what we are doing.
[…]
Formosus (“beautiful”) is written without an N (i.e. not formonsus), because it is so called from forma (“beauty”), [or from formus, that is, ‘warm’; for warmth of blood produces beauty].
[…]
- Good-looking (formosus) is so called from appearance (forma); the ancients used formus for ‘warm’ and ‘heated,’ for heating arouses blood, [and] blood arouses beauty.
[…]
- Good-looking (speciosus), from appearance (species) or looks, as beautiful (formosus) is from shape (forma).
Daí viria a associação feita entre forma, similitude e idolatria enquanto um culto às formas dos criadores de formas96:
The use of likenesses arose when, out of grief for the dead, images or effigies were set up, as if in place of those who had been received into heaven demons substituted themselves to be worshipped on earth, and persuaded deceived and lost people to make sacrifices to themselves. 6. And ‘likenesses’ (simulacrum) are named from ‘similarity’ (similitudo), because, through the hand of an artisan, the faces of those in whose honor the likenesses are constructed are imitated in stone or some other material. Therefore they are called likenesses either because they are similar (similis), or because they are feigned (simulare) or invented, whence they are false. 7. And it should be noted that the Latin word also exists among the Hebrews, for by them an idol or likeness is called ‘Semel.’ The Jews say that Ishmael first made a likeness from clay. 8. The pagans assert that Prometheus first made a likeness of humans from clay and that from him the art of making likenesses and statues was born. Whence also the poets supposed that human beings were first created by him – figuratively, because of these effigies. 9. Among the Greeks was Cecrops, during whose reign the olive tree first appeared on the citadel, and the city of Athens received its name from the name of Minerva. 10. He was the first of all to call on Jupiter, devise likenesses, set up altars, and sacrifice offerings, things of this kind having never before been seen in Greece.
Idolatry (idolatria) means the service or worship of λατρεία idols, for in Greek is translated in Latin as servitude (servitus), which as far as true religion is concerned is owed only to the one and only God.
Just as impious pride in humans or demons commands or wishes for this service to be offered to itself, so pious humility in humans or holy angels declines it if it is offered, and indicates to whom it is due. 13. An idol (idolum) is a likeness made in the form of a human and consecrated, according to the meaning of the word, for the Greek term εἶδος means “form” (forma), and the diminutive idolum derived from it gives us the equivalent diminutive formula (“replica,” i.e. an image made in a mold). 14. Therefore every form or replica ought to be called idol. Therefore idolatry is any instance of servility and subservience to any idol. Certain Latin speakers, however, not knowing Greek, ignorantly say that ‘idol’ takes its name from ‘deception’ (dolus), because the devil introduced to creation worship of a divine name. 15. They say demons (daemon) are so called by the Greeks as if the word were δαήμων, that is, experienced and knowledgeable in matters, 10 for they foretell many things to come, whence they are also accustomed to give some answers.
3.9.2 Ocorrências da palavra fōrma
Segue um resumo da checagem inicial da estrutura de ocorrências/significados do verbete fōrma no “Thesaurus Linguae Latinae”97 Quando indicadas, as autorias referem-se à primeira ocorrência conhecida, em ordem cronológica, tipicamente a ordem em que os trechos estão dispostos nos verbetes deste dicionário, vide o Index librorum scriptorum inscriptionum ex quibus exempla afferuntur98 e o documento Article structure99 do mesmo):
- I de rerum qualitate:
- A de figura externa:
- 1 sensu proprio:
- a: de corporeis:
- α de animantibus: Cn. Naevius (270-201 AEC).
- β de rebus: Marcius Porcius Cato Censorius (234-149 AEC).
- γ:
- in universum: Varro (116-27 AEC).
- εἶδος sensu Aristotelico: Sêneca o Jovem (4 AEC - 65 EC).
- b de incorporeis: Varro.
- a: de corporeis:
- 2 sensu limitatu: ?
- 1 sensu proprio:
- B de habitu et ratione:
- 1 ita ut species, aspectus significetur: Cícero (103-43 AEC).
- 2 ita ut nom tam externus habitus aut species quam interna velut
dispositio et qualitas spectetur:
- a fere i. q. genus: Cícero.
- b fere i. q. modus et ratio, qua res aliqua agitur: Cícero.
- c fere i. q. ordinatio, dispositio, status: Cícero.
- d fere i. q. natura, vis χαρακτήρ: Cícero.
- e fere i. q. ‘Begriff’: Cícero.
- A de figura externa:
- II de ipsis rebus formatis (praeter ea exempla, quibus prevalet
notio imaginis vel exemplaris:
- A de animantibus: Cícero.
- B de rebus:
- 1 de corporeis:
- a de figuris corporatis: Lucrécio (~97-55 AEC).
- b de rebus arter quadam factis: Cícero.
- 2 in mathematica: Martianus Minneius Felix Capella Carthaginiensis (?).
- 3 de incorporeis:
- a in grammatica: Varro.
- b in rhetorica: Cícero.
- c in jurisprudentia: Virgílio (70-19 AEC).
- d i.q. formula certis verbis concepta: Tertuliano (fim do século II, início do século III EC).
- e i.q. decretum imperatoris, magistratum sim: Marcus Cornelius Fronto (século II EC).
- f in medicina: Isidoro de Sevilha (séculos VI-VII EC).
- 1 de corporeis:
- III prevalente notione imaginis vel exemplaris:
- A i. q. imago ad similidudinem alicuius rei formata:
- 1 proprie:
- a i. q. effigies, simulacrum: Cícero.
- b i. q. de scriptio, delineatio: T. Livius Patavinus (59 AEC - 17 EC).
- 2 translate: Ovídio (43 AEC - 17 ou 18 EC).
- 1 proprie:
- B i. q. exemplar, ad cuius similitudinem res aliqua formatur:
- 1 proprie.
- 2 translate:
- a i. q. exemplum, quod ad imitandum proponitur: Varro.
- b fere i. q. regula, norma sim.: Cícero.
- c i. q. ἰδέα sensu Platonico: Cícero.
- A i. q. imago ad similidudinem alicuius rei formata:
Incrementos futuros deste estudo poderiam conter outras considerações filológicas e métricas, como a ocorrência cronológica do termo numa tabela/gráfico quantidade de ocorrências em função do ano/século/período estimado. Mas para isso é necessário ter acesso a um corpus completo da língua latina num formato que facilite esse tipo de análise.
3.9.4 Classificações dos conceitos de Informação
Aqui consta um breve resumo das várias tentativas de classificar ou unificar as teorias, conceitos e entendimentos de Informação, mostrando que não há consenso em considerar a formulação de Shannon-Weaver como “A Teoria” da “Informação”, e que muitas outras concepções e teorizações podem existir.
“Toward a Theory of Library and Information Science”, Alvin Marvin Schrader (1983).
“The domain of information science: problems in conceptualization and in consensus-building”, Alvin M. Schrader (1986), incluindo:
Alvin M. Schrader (1986) pág. 179:
Auerbach [1972] noted (p. 217) at an advanced study institute on information science sponsored by the North Atlantic Treaty Organization that:
I have listened with great care to all the fine speakers who have given very different concepts for the word information – and yet each of them has agreed that all the others are correct! What is even more confusing is that they have sometimes incorporated these conflicting definitions within their own.
He argued that an effort be made to define fundamental concepts and that a few words be banned, “the first being information” (p. 219).
Classificações segundo Rafael Capurro:
- O “Trilema de Capurro”:
Resumo, Capurro (2009) pág. 134:
Some philosophers have questioned the use of the concept of information in natural sciences as a misleading analogy or as a redundant concept with regard to causality.21 Peter Fleissner and Wolfgang Hofkirchner have called this problem “Capurro‘s trilemma”, being in fact an Aristotelian one. They point to the following options:
Univocity: the concept of information means the same in every context. Disadvantage: reductionism.
Analogy: the concept of information has an original meaning in a specific context, for instance in human communication and can be applied only analogically to other levels of reality. Disadvantage: anthropomorphism.
Equivocity: the concept of information has different meanings in different contexts. Disadvantage: Babel syndrome. Scientific discourses and theories remain encapsulated. (Fleissner & Hofkirchner, 1995)
Discussão:
- “Is a unified theory of information feasible? A trialogue”, Capurro, Fleissner, e Hofkirchner (1997).
- A classificação histórica de Capurro e Hjørland (2003) e Capurro e Hjorland (2007):
Usos antigos.
Usos “modernos” e “pós-modernos”.
Nas “Ciências Naturais”.
Nas “Humanidades e Ciências Sociais”.
Na “Ciência da Informação”.
- Em Capurro (2022):
- O “Trilema de Capurro”:
Classificações segundo Luciano Floridi:
- A classificação de Luciano Floridi em Floridi (2004) págs. 40-42, resumida na
introdução de Floridi (2016c):
- Abordagens:
Reducionistas (buscam um “Ur-concept” na forma de uma “Teoria Universal da Informação”, ou “Universal Theory of Information” - UTI). Numa teoria universal da informação, esta perderia sua polimorfia irredutível a uma única forma básica, da quais todas as outras derivariam.
Anti-reducionistas.
Não-reducionistas:
- Centralistas:
- “General Definition of Information” (GDI).
- Descentralistas ou multi-centralistas.
- Centralistas:
- Abordagens:
- A classificação de Luciano Floridi em Floridi (2004) págs. 40-42, resumida na
introdução de Floridi (2016c):
Classificações segundo Pieter Adriaans:
- A classificação de Adriaans (2020):
- Propriedades centrais:
Informação é extensiva (aditiva).
Informação reduz incerteza (e é não-negativa, vide Floridi (2019)).
- Formalizações teóricas:
- Qualitativas:
Informação Semântica.
Informação como o estado de um agente.
- Quantitativas:
Função de Nyquist.
Informação de Fischer.
Função de Hartley.
Informação de Shannon.
Complexidade de Kolmogorov.
Medidas de entropia na Física.
Informação quântica.
- Qualitativas:
- Propriedades centrais:
- Uma classificação útil, porém muito esquemática, em Pieter Adriaans (2008) pág. 11:
Informação-A: “conhecimento, lógica, o que é comunicado em respostas informativas”.
Informação-B: Shannoniana, probabilística, medida quantitativamente, vide
Informação-C: “algorítimica, compressão de código, medida quantitativamente”. Não é o mesmo que o Nível C descrita em Shannon e Weaver (1963).
- A classificação de Adriaans (2020):
Classificações em Shannon e Weaver:
Os três níveis de problemas da comunicação na classificação de Shannon-Weaver, sendo mais uma classificação da comunicação do que da informação102:
Level A. How accurately can the symbols of communication be transmitted? (The technical problem.)
Level B. How precisely do the transmitted symbols convey the desired meaning? (The semantic problem.)
Level C. How effectively does the received meaning affect conduct in the desired way? (The effectiveness problem.)
A informação shannoniana seria a do Nível B.
Bibliografia
Contribuições para um debate à ocasião do evento “Bifurcar: Tecnopolíticas da Retomada”, realizado na sede do Coletivo Intervozes, em São Paulo - Brasil, nos dias 8 e 9 de Dezembro de 2023 EC. Baseado em pesquisa em andamento sobre cibernética.↩︎
Um exemplo é a famosa passagem do cibernético Norbert Wiener,“Information is information, not matter or energy. No materialism which does not admit this can survive at the present day”, Wiener (1961) pág. 32.↩︎
Segundo Capurro (2022) págs. 47-48, typos (τύπος) viria de typto (τύπτω, “que significa “empujar, pinchar, golpear con un arma, un palo o algo semejante”“), e teria sentidos como impressão, marca, in-formação, tabula rasa.↩︎
Esta raíz é descrita em ADSOQIATION (2007) nas págs. 2961-2965.↩︎
Beekes (2010) págs. 969-970; também em Meyer (1901) pág. 405.↩︎
Andrews et al. (1879) pág. 768 sugere que viria do sânscrito, “dhar-, dhar-āmi, bear; dhar-i-man”. O verbete dhara de Monier-Williams (1872) pág. 449 indica: “Dhariman, […] a balance, a pair of scales, a weight; form, figure, semblance”. A conexão com dhar-i-man também consta em Corssen (1863) pág. 169 e em Curtius (1869) pág. 241, e é referenciada no verbete forma de Walde e Hoffmann (1938) pág. 531, associada à raíz (proto-)indo-européia \(*dher-\) no sentido latino de ferē, firmus, frētus; outra conexão elencada pelo mesmo dicionário seria à raíz \(*bhrgh-ma\), de “brāhman” no sânscrito e eventualmente flāmen (“padre”) no latim. ADSOQIATION (2007) págs. 689-690 nos indica que \(*dher-^{2}\) significaria “segurar”, suportar, e seria a base das palavras latinas de ferē (“perto”, “quase”, “próximo”, firmus (“firme”, “forte”) e frētus (“contando com”, “confiando em”).↩︎
Essa teoria é tão antiga quanto pelo menos o estudo da língua grega feito por Janus Lascaris (~1445-1534 EC), vide Lamers (2019) pág. 40. Glare (1968) págs. 722-723, também indica que fōrma talvez tenha vindo da palavra grega μορφή (morfé). Essa etimologia também é dada em Beekes (2010) pág. 970, e mencionada em Capurro (2022) pág. 46 nota 49. A passagem do grego para o latin teria ocorrido por uma mediação do etrusco (do grego para o etrusco, do etrusco para o latim). Outras referências aventam o termo indo-europeu reconstruído _*morma_ como uma tentativa de aliar morfé com fōrma: em Vaan (2008) págs. 233-234; no dicionário etimológico conhecido como “WH”, Walde e Hoffmann (1938) págs. 530-531.↩︎
Walde e Hoffmann (1938) pág. 531. Referências sobre \(bher-^{3}\) em Pokorny (1959) págs. 133-134; e em ADSOQIATION (2007) págs. 412-413: “English meaning: to scrape, cut, etc. […] Lat. feriō , -īre “ to strike, knock, smite, hit; esp. to strike dead, slay, kill; colloq., to cheat “ (see also WH. 1481 to ferentürius “ a light-armed soldier, skirmisher “). About forma “ form, figure “ s. WH. I 530 f.”↩︎
Trecho também disponível em Seckel e Kübler (1908) pág. 2.↩︎
Calor, ou formus em latim29, pode ser relacionada ou ter vindo do grego θερμός (thermos) ou do sânscrito gharma.↩︎
Forno, no latim furnus, Glare (1968) pág. 749; também fornax, Glare (1968) pág. 724. Em Kayachev (2020) págs. 121-122 há uma discussão relevante sobre a etimologia da palavra furnus: _“The reliability of Donatus’ testimony might not be beyond doubt, but etymological considerations suggest that ‘heat, fire’ or ‘embers’ is indeed the original meaning of furnus. Latin furnus (fornus) derives from the widely attested Indo-European root \(*g^{wh}er-\) denoting warmth (\(*g^{wh}r-no-\)), or less likely \(*g^{wh}or-no-\)), and analogous formations in other Indo-European languages can mean ‘heat’, ‘fire’, or ‘embers’.[14] For instance, Sanskrit \(ghrṇá-\) (\(*g^{wh}r-no-\)) means ‘heat’ […] (*g wh rē-ns-o-). 17 All this would seem to suggest that the meaning ‘oven’ shared by Latin furnus and Slavic _*gъrnъ_ is the development of the more elementary concrete meaning ‘red-hot matter, burning coal’ (as distinct from ‘open fire, flame’?). Donatus’s testimony is therefore likely to reflect real linguistic facts, implying that furnus actually preserved the original meaning ‘heat, fire’, or even ‘embers’, alongside ‘oven’.[18] […] 18 We may compare the cognate adjective formus ‘warm, hot’, which likewise is only attested by ancient grammarians_“.↩︎
Fogueira, do latim focus, Glare (1968) pág. 718; Vaan (2008) págs. 228-229.↩︎
(TODO?): no futuro, mover este ponto para a sessão sobre definições.↩︎
Peço desculpas de antemão por citar excessivamente Capurro (2022), mas minha priorização atual me impede agora de resumir os trechos ou descrevê-los com minhas próprias palavras, o que posso fazer assim que for favorável. De todo modo, que seja uma maneira de valorizar o importante trabalho de Rafael Capurro.↩︎
“Formação (de uma ideia), concepção” Glare (1968) pág. 903.↩︎
“Dar uma forma”; “To form in the mind (ideas, esp. rough ones)”, vulgo “fazer a cabeça”; “To mould (a person, his mind) by instruction, via Glare (1968) pág. 903.↩︎
Vale ressaltar aqui que por “inteligência” estamos nos referindo à noção contemporânea. Neste momento não estamos fazendo um resgate genealógico-etimológico dos conceitos de inteligência.↩︎
Vale uma checagem adicional nos dicionários (etimológicos) sobre a situação verbal/adjetiva/substantiva dessas palavras ligadas à forma.↩︎
Capurro e Hjørland (2003) pág. 368; Capurro (2022) págs. 31 e 213. Ver também sobre a teoria da ”Informação Semântica”, Bar-Hillel e Carnap (1953).↩︎
Como exemplo, há a controvertida tradução e interpretação do conceito epicurista “prolepsis” – uma espécie de conhecimento inato, mas que não seria exatamente o que hoje chamamos de instinto – feita por Cícero, vide Capurro (2022) pág. 100; também em Capurro e Hjørland (2003) pág. 352 e Capurro e Hjorland (2007) pág. 156.↩︎
TLL (2019a) págs. 1065-1082. Referência dada também em Maltby (1991) pág. 240.↩︎
Checar Demetriou (2014) e Beeson (1922) a respeito de Aelius Donatus, seus comentários e as várias “vicissitudes” na sua transmissão ao longo dos tempos.↩︎
Vide Afer (1806) pág. 313; também em Afer e Fleckeisen (1897) pág. 167 e Afer (1820) pág. 373.↩︎
Vide Terence (1893) pág. 309; uma outra tradução, em verso, está em Terence (1893) pág. 571.↩︎
Disponíveis na íntegra em fontes como Donatus e Karsten (1913) págs. 232 e também em Donatus e Wessner (1905) pág. 378.↩︎
Ernout e Meillet (2001) pág. 247. Verbete também em Ernout e Meillet (1951) págs. 439-440.↩︎
Seville et al. (2006) I.viii.5-ix.6 pág. 45; I.xxvii.4-xxvii.20 pág. 53; X.F.99-G.112 pág. 219; X.R.235-S.247 pág. 228.↩︎
TLL (2019a) págs. 1065-1082; verbete compilado por J. Kapp.↩︎
Tais como listados no “Thesaurus Linguae Latinae”, TLL (2019a) págs. 1065-1082↩︎
Como no verbete forma de Smith (1859) pág. 545: forma enquanto de fôrma (molde), no mesmo sentido da grega τύπος (afinal, trata-se de um dicionário de objetos). Também em Smith (1890) págs. 872-873↩︎